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terça-feira, 27 de setembro de 2016
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segunda-feira, 12 de setembro de 2016
Documentário. Série produzida pela Rádio Senado, de Brasília, conta a história do povo cigano desde os seus primórdios, passando por sua chegada ao Brasil até a realidade dos grupos e comunidades.
Série produzida pela Rádio Senado, de Brasília, conta a história do povo cigano desde os seus primórdios, passando por sua chegada ao Brasil até a realidade dos grupos e comunidades.
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Um pouco mais sobre a história dos povo Cigano
A História do povo cigano em certos momentos continua a ser uma incógnita, através de documentos e vídeos existentes foi possível desenvolver um pequeno documentário. Nesta primeira parte aborda-se os modos e hábitos de vida deste povo.
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História dos Ciganos ( Autora: Denize Carolina Auricchio Alvarenga da Silva Historiadora e Educadora )
História dos Ciganos
Introdução à história dos ciganosAutora: Denize Carolina Auricchio Alvarenga da Silva Historiadora e Educadora
Não podemos lidar com a trajetória cigana da mesma forma com que tratamos do percurso de outros povos que possuem documentos e registros escritos pelos próprios. Sua história é contada a partir do contato com outras sociedades; os interessados na reconstrução de sua história usaram, principalmente, acervos de arquivos oficiais de locais por onde eles passaram. Alguns utilizaram-se do contato no cotidiano e de história oral como Maria de Lourdes Sant’ Ana que conviveu durante dois anos em Campinas com seus habitantes Ciganos e Alexandre Mello Moraes Filho e seus colaboradores do Rio de Janeiro.
Lendas e Hipóteses sobre as origens
Para uns eles seriam indianos, outros acreditam que egípcios. Não faltaram também hipóteses de que teriam vindo de algum outro lugar da Ásia como a Tartária, Silícia, Mesopotâmia, Armênia, Cáucaso, Fenícia ou Assíria. Alguns deram crédito às hipóteses de serem europeus de regiões afastadas da Hungria, Turquia, Grécia, Alemanha, Bohemia ou Espanha (em um misto de mouros e judeus), ou mesmo de africanos de outras regiões (que não o Egito) como a Tunísia. Mas através de pesquisas estas hipóteses foram sendo descartadas e delas apenas duas continuaram sendo examinadas pelos ciganólogos: a origem egípcia e a indiana.
Ao longo de suas andanças seculares os ciganos incorporaram culturas de diversos países, o que dificulta enormemente os estudos que tentam reconstruir sua origem e dispersão pelo mundo.
Ciganos e alguns estudiosos recorreram a Bíblia para explicar suas origens; definiram-se como descendentes de Caim “Sela, de seu lado deu à luz Tubal Caim, o pai de todos aqueles que trabalham o cobre e o ferro” (Gênesis, capítulo 4,versículo 22). Aplicou se também um texto de Ezequiel (capítulo 30, versículo 23) “Dispersarei os egípcios entre as nações, eu os disseminarei em diversos países”, este último trecho foi associado, pois eles eram conhecidos como egípcios quando chegaram a Europa.
Outras versões ainda resistiram ao tempo como a descendência de Caim e por isso o castigo de vagar pelo mundo, a hipótese de terem sido os fabricantes dos pregos que crucificaram Jesus, ou que teriam roubado o quarto prego tornando assim mais dolorosa a pena dele. E ainda que eles seriam os responsáveis pela segurança de Jesus, mas não puderam impedir que o levassem pois estavam bêbados. Há também a teoria que antes da Natividade os egípcios teriam recusado hospitalidade a Santa Família e como punição seus dependentes foram condenados a levar uma vida errante.
Apenas no século XVIII começou a ser discutido o assunto com mais seriedade e lingüistas apontaram indícios mais palpáveis da origem indiana em 1753 quando se comparou o idioma romani com o sânscrito, mais precisamente o hindi que é uma de suas derivações. A partir de análises comparativas de seus costumes e linguagem com outros de diferentes povos, os estudiosos foram apontando datas aproximadas de sua presença nos locais onde passaram um tempo considerável e adquiriram parte de sua bagagem cultural. Ainda há divergência entre pesquisadores da ciganologia, mas os estudos mais recentes apontam para a origem indiana.
Ao chegarem a Europa diziam ter vindo do Egito condenados por Deus a viverem desterrados devido ao pecado de seus antepassados de se negarem a acolher a Virgem Maria e seu filho. Mais tarde se verificou que não eram originários do Egito, mas já estavam conhecidos popularmente como egípcios, apesar de não saberem informar onde ficava essa região. Também não é provado que a denominação de egípcios tenha vindo dos ciganos, pode ter sido uma definição dos europeus para explicá-los, se baseando na escritura de Ezequiel que fala da dispersão dos egípcios. Outra evidência é a falta de elementos egípcios no dialeto cigano.
Comparando se a língua, tipo físico e algumas crenças religiosas delineia-se uma trilha geográfica que permite localizar os ciganos na Índia. Mas a região exata ainda não está definida, acredita se que teriam vindo Sind, Punjab ou de outro ponto. Outro estudo foi feito a respeito de características físicas e relatos dos caracteres dos ciganos comparando com os hindus e as principais semelhanças são o rosto comprido e estreito na altura dos pômulos, cabelos e olhos negros, pele bronzeada, nariz um pouco agudo, boca pequena, estatura variando de regular a alta, corpo robusto e algo que apesar de não ser físico era notável: a agilidade.
A Dispersâo - Uma História de Perseguiçao e Sofrimento
Infelizmente pouco sabemos a respeito dos ciganos que, sempre, em grupos numerosos vem há tantos séculos penetrando em diversos territórios pelo mundo.
Alcançaram os Balcãs nos primeiros anos do século XIV e depois de um período de cem anos já estavam espalhados por toda a Europa. O surgimento desses errantes na Europa coincide com uma época de perturbações sociais e intenso movimento nas estradas.
Independente da precisão da entrada dos ciganos na Europa sabe-se que o caráter misterioso deles transformou a curiosidade inicial em hostilidade devido a seus hábitos muito diferenciados. Eram considerados inimigos da Igreja que condenava suas práticas sobrenaturais como a cartomancia e a leitura das mãos. A partir do século XV esses ciganos migraram também para a Europa Ocidental, onde quase sempre afirmavam que sua terra de origem era o Pequeno Egito, por isso foram denominados egípcios, egitano, gipsy entre outros. Alguns grupos se apresentaram como gregos e atsinganos e ficam conhecidos com grecianos na Espanha, ciganos em Portugal e Zingaros na Itália. Na Holanda a partir do século XVI se utiliza a denominação heiden, que significa pagão. Na França também foram chamados de tsi – ganes, manouches, romaniche e boémiens.
Distribuíram-se por várias zonas da Europa, mas as razões históricas que levaram ao seu nomadismo devem-se essencialmente à sua difícil integração social. Devido ao tom escuro da sua pele, eram vistos nas terras aonde chegavam pelos gadje (estrangeiros em romani) como malditos ou enviados do demônio. Também pelo fato de alimentarem práticas de quiromancia e adivinhação fez com que fossem repudiados pela Igreja Católica e pelas diferentes religiões cristãs.
Os preconceitos e a hostilidade geraram diversos tipos de perseguições. Na Europa, a perseguição aos ciganos não se fez esperar. O Estado que viu no seu nomadismo uma ameaça social, mais propriamente através da Inquisição, desencadeou os seus mecanismos de perseguição. Os ciganos foram assim proibidos de usar os seus trajes típicos, cujas cores berrantes e gosto extravagante fugiam à norma social, de falar a sua língua, de viajar, de exercer os seus ofícios tradicionais ou até mesmo de se casar com pessoas do mesmo grupo étnico. Isto fez com que os traços fisionômicos dos ciganos se alterassem, e por isso não é hoje invulgar encontrar ciganos de olhos claros e cabelo louro. Em alguns países foram mesmo reduzidos à escravidão: na Romênia, os escravos ciganos só foram libertados em meados do séc. XIX, através da apresentação de um projeto resultado de uma campanha de libertação apresentado a Assembléia e em 1855 libertaram-se os duzentos mil ciganos feitos escravos pelos senhores moldo valáquios, outros pertenciam ao Estado e ao clero. Também foram escravos na Hungria e Transilvânia sob as acusações de roubo, antropofagia e outras violações da lei. Na Boêmia os ciganos tinham a orelha esquerda cortada se aparecessem na região e lá também foram acusados de canibalismo. Em períodos mais recentes, juntamente com os judeus, prevê-se que talvez cerca de meio milhão tenha perecido no Holocausto. Os seus cavalos foram mortos a tiro, os seus nomes alterados (daí que não seja invulgar encontrar ciganos com nomes dos gadje) e as suas mulheres foram esterilizadas. Os seus filhos foram brutalmente retirados às suas famílias e entregues a famílias não-ciganas.
Na Hungria e Pensilvânia sob pretexto da antropofagia são esquartejados e enterrados vivos nos pântanos.
Na Sérvia também foram mantidos escravos até meados do século XIX e a sua caça era feita com muita crueldade. Deportações, torturas e matanças ocorreram em vários pontos desse país.
Hordas de ciganos vindos dos Pirineus chegam a Espanha banidos dos países que já tinham passado. Foi um período de paz durante o reinado de Carlos III que os utilizou nas artes, mas governos posteriores derramaram contra eles perseguições, tirando seus empregos e privilégios. Numerosos emigraram para Portugal, indo mais tarde alimentar as chamas da fogueira da Inquisição de D. João II que promulgou leis de punição. Documentos atestam que chegaram na Inglaterra por volta de 1430 e logo se espalharam pelas Ilhas Britânicas, País de Gales, Irlanda e Escócia, onde também foram perseguidos e em 1563 as autoridades ordenam que abandonem o país em três meses sob pena de morte. Acreditando que os ciganos vinham do Egito, os ingleses chamaram os de "gypsies". Trabalhavam como menestréis e mercenários, ferreiros, artistas, e damas de companhia.
Na Espanha um decreto de 1449 ordena o desterro de todos os que não tenham ofício reconhecido, nos séculos XVI e XVII são perseguidos e torturados para confessarem seus crimes. Em 1663 Felipe IV os proíbe de se reunirem, de usarem seu idioma, suas roupas e danças. O objetivo era a desculturalização e desintegração como grupo até que em 1783 sob o reinado de Carlos II fez se uma política mais favorável e foram, considerados neo castelhanos.
Depois de atravessarem a Pérsia e viverem durante séculos no Império Bizantino, foram para norte no séc. XIV. Portugal foi um dos países que deportou muitos ciganos para as suas colônias, neste caso África e Brasil.
No século XVIII os ciganos são o avesso do ideal social da época, o século das luzes honra o trabalho.
No final do séc. XIX houve uma terceira migração de ciganos do leste Europeu para os EUA. Sem pátria, num mundo onde tudo muda a uma velocidade alucinante, o destino previsto para os ciganos é, muitas vezes, sombrio.
Após a Segunda Guerra Mundial, muitos ciganos das áreas rurais da Eslováquia foram forçados pelos governos a trabalhar nas fábricas da Morávia e da Boémia, as regiões centrais, mais industrializadas, do território checo. Porém, em 1989, com a Revolução de Veludo e o fim do comunismo no país, os ciganos foram os primeiros a perder os seus empregos, até então garantidos por um regime que pregava a igualdade e homogenia social. É verdade que existe uma pequena e assimilada elite intelectual cigana, mas a maioria dos ciganos da Europa Central ainda vivem em esquálidos cortiços das grandes cidades. Junte-se a isso as perspectivas econômicas sombrias, um surto de ataques neonazistas e o fascínio que a prosperidade ocidental exerce e temos um panorama desolador da região do mundo que mais ciganos alberga. O resultado é que milhares de ciganos emigram para países ocidentais, onde trabalham ilegalmente, pedem esmola ou buscam asilo político. Estima se hoje que existam 10 milhões de ciganos, 60% vivendo na Europa Oriental. A Romênia com 2,5 milhões de ciganos abriga a maior concentração mundial. Em vários países europeus e em demais continente onde emigraram vivem populações flutuantes em que se atribui origem nômade, mas com marcas culturais bem definidas. As denominações variam conforme o lugar que estão. Mesmo possuindo uma só origem, o povo cigano, durante perseguições e injustiças ao longo dos séculos, tentam conservar sua cultura e tradição inalteradas até os dias de hoje. Uma prova disto é o romanês, o idioma universal cigano falado pelos clãs no mundo. Atualmente, dentre dezenas de grupos ciganos, os que predominam são os seguintes:
Grupo Kalon – falam o calon, são originários do Egito; durante séculos situaram-se na Península Ibérica (Portugal e Espanha) e se espalharam por outros países inclusive da América do Sul deportados ou migrantes. Os Kalons, em algumas situações, tiveram que ocultar sua origem, criando um dialeto próprio, extraído da língua regional. O nomadismo é maior entre esse grupo.
Os Rom ou Roma falam a língua romani e são divididos em vários sub grupos com denominações próprias como os Matchuaia (originários da Iugoslávia), Lovara e Churara (Turquia), Moldovano (originários da Rússia), Kalderash (originários da Romênia) Marcovitch (Sérvia), .
Sinti falam a língua sintó e são mais encontrados na Alemanha, Itália e França, onde também são chamados Manouche. Fazem parte desta divisão as famílias Valshtiké, Estrekárja e Aachkane todas francesas.
Ciganos, ao contrário dos judeus, nunca demonstraram um desejo de ter o seu próprio país, assumindo-se párias. Nas palavras de Ronald Lee, escritor cigano nascido no Canadá, "a pátria dos roma é onde estão os meus pés".
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quarta-feira, 7 de setembro de 2016
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JOSÉ, TEREZA, ZÉLIA... E SUA COMUNIDADE... UM TERRITÓRIO CIGANO
www.observatoriogeogoias.com.br
2 -
(Rádio Difusora - Goiânia-GO) em julho de 2000.
Transcrição feita por Ademir Divino Vaz.
Publicado originalmente em: Revista Trilhos – Revista da Faculdade do Sudeste Goiano.
Pires do Rio. V-3, nº 3 (2005), p. 95-109.
JOSÉ, TEREZA, ZÉLIA... E SUA COMUNIDADE...
UM TERRITÓRIO CIGANO
Ademir Divino Vaz1 - ad.vaz@bol.com.br
O problema que sempre existiu ao estudar os ciganos foi o risco do exotismo e da
comparação depreciativa. Se, por um lado, as pessoas se encantam e surpreendem-se com o
"estranho" modo de vida dos ciganos, por outro, não relutam em considerá-los inferiores,
atrasados. Dessa forma, costuma-se definir os ciganos como sendo o povo que não tem
residência fixa, que não tem uma pátria, que não tem emprego...
Contudo, não se pode explicar os ciganos pelo que lhes falta, tendo como ponto de referência a nossa sociedade, pois assim, deixa-se de ter uma melhor compreensão da sua realidade. Pensando na essência da realidade cigana, este artigo traz inicialmente uma breve caracterização histórica dos ciganos, apresentando a trajetória de poucos direitos e na seqüência apresenta as relações sociais entre ciganos e não-ciganos na cidade de Ipameri, sudeste de Goiás.
O amor à liberdade, à natureza, e a sabedoria de viver representada por um conjunto de tradições e crenças, fazem parte de uma cultura fascinante e polêmica de um povo amante da música, das cores alegres e da dança.
Tais características são inerentes à cultura cigana. Para esse povo o importante é o momento presente. O passado é experiência e lembranças, e o futuro uma expectativa aventureira de conseguir sobreviver à margem de uma sociedade, que por muito tempo não conhecia a origem desse povo. São traços predominantes de uma doutrina hedonista, que considera o prazer como fim último e universal da conduta humana.
Foi difícil distinguir entre a lenda e a história com respeito à origem dos ciganos. Para Peter Godwin (2001) somente no século XIX, através de pesquisas lingüísticas e antropológicas, graças a indícios nos vários dialetos de seu idioma - o romani - chega-se a conclusão de que os ciganos, provêm da região de Gurajati, norte da Índia e que foram para o Oriente Médio há cerca de mil anos.
As informações mostram que, os ciganos migraram da península indiana para Europa há quase mil anos. Espalharam-se pelo continente europeu deixando de ser um povo homogêneo. Nos séculos XVI e XVII foram expulsos de vários países e passaram a ser associados aos criminosos, aos propagadores de epidemias e aos ladrões. Esta racionalização negativa era aceita pela maioria, para justificar as medidas de expulsão ou de distanciamento.
A história dos ciganos foi marcada também por perseguições e preconceitos durante a sua dispersão pelo mundo a partir do século XI. Segundo Martinez (1989), na Moldávia e na Valáquia, atualmente Romênia, os ciganos foram escravizados durante 300 anos; na Albânia e na Grécia pagavam impostos mais altos. Também na Hungria conheceram a escravatura. E os ingleses expulsavam, sob pena de morte, aqueles que se recusavam a fixar residência, ou seja, os ciganos. Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a desculpa de que "iriam estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a Áustria puniam com severidade quem os acolhesse. Pior ainda acontecia nos países Baixos, onde inúmeros ciganos foram condenados à forca e seus filhos obrigados a assistir à execução para aprender a "lição de moral".
Schepis (1997) reforça os exemplos de perseguições, preconceitos e discriminações sofridas pelos ciganos. Para ela, na Sérvia e na Romênia eles foram mantidos em estado de escravidão por um certo tempo e a caça ao cigano aconteceu com muita crueldade e com bárbaros tratamentos.
A hostilidade ao cigano vem devido aos seus hábitos de vida muito diferentes daqueles que tinham as populações sedentárias. Eles eram, também, considerados inimigos da Igreja, a qual condenava as práticas ligadas ao sobrenatural, como a cartomancia e a leitura das mãos que os ciganos costumavam exercer.
A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura não permitia o reconhecimento como grupo étnico bem individualizado. A oposição aos ciganos se delineou também nas corporações, que tendiam a excluir os concorrentes no artesanato, sobretudo no âmbito do trabalho com metais. O clima de suspeitas e preconceitos é mais uma vez percebido por Martinez (1989) na criação de lenda e provérbios tendendo a pôr os ciganos sob mau conceito, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Cã, e , portanto, malditos (Gênesis, 9:25). Difundiu-se também a lenda de que eles teriam fabricado os pregos que serviram para crucificar Cristo (ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o quarto prego, tornando assim mais dolorosa a crucificação do Senhor).
Comerciantes natos, artesãos de cobre, metais e ourives, artistas, músicos e as mulheres leitoras da sorte, nunca passaram despercebidas na história da humanidade. Sob o nazismo, os ciganos tiveram um tratamento similar ao dos judeus: muitos deles foram enviados aos campos de concentração, onde foram submetidos à experiências de esterilização, usados como cobaias humanas. Calcula-se que meio milhão de ciganos tenham sido eliminados durante o regime nazista.
É difícil traçar os rumos tomados pelos ciganos no Brasil. Sabe-se que os primeiros que vieram para o Brasil, estabeleceram-se em Pernambuco, na Bahia e Minas Gerais, "o rumo posteriormente tomado pelos deportados, quantos internaram-se nas florestas ou permaneceram nos centros colonizados, é uma questão complexa e de resolução dificílima" (Moraes Filho, 1981:27). No Brasil nunca existiu uma política pró-cigano, nem leis que tratam especificamente das minorias ciganas. No entanto, na constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988 existem alguns artigos que por extensão podem também ser aplicados aos ciganos. No artigo 3° evidencia-se como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a promoção do bem a todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
No artigo 5° está escrito que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país, inviolabilidade de direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Desta maneira, observa-se na Constituição Brasileira o direito a não-discriminação, o que na maioria das vezes só fica na teoria.
Ainda no artigo 5º percebe-se o direito à livre locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Esse, provavelmente, é o direito mais importante para a maioria dos ciganos, o direito à livre locomoção. Nota-se, portanto, na Constituição brasileira a garantia de alguns direitos que cabem também aos ciganos. Porém, na prática, conforme já foi mencionado, muitos destes direitos são constantemente ignorados e violentados.
Mio Vacite, representante da União cigana do Brasil, fala sobre a origem do preconceito que cerca o povo cigano: Não se pode dizer que a origem é esta ou aquela, uma única coisa. São vários fatores: primeiro é o nomadismo, o modo de vida ser diferente, seria a barganha, o comércio. Essa discriminação gerou-se porque nós infelizmente fomos rotulados pela sociedade branca que não admitia que nós somos um povo livre e tivesse nossa própria cultura. Isso eu falo nos termos da época do Brasil Colonial e Imperial. (...) Dizem que os ciganos roubavam crianças. Existem controvérsias sobre isso. (...) Naquela época de 1500, 1600, 1700, onde as moças da sociedade se perdiam, então havia aquele problema. Então era mandada para Europa para estudarem piano num convento, esperando que a criança nascesse, e as freiras davam essas crianças aos nômades que passavam. Daí via-se em alguns acampamentos, ciganas loiras de olhos azuis. (...) Daí criaram as controvérsias, esses mal entendidos.2
Pelo depoimento percebe-se que o preconceito aos ciganos no Brasil advém do diferente modo de vida deles e que a herança cultural desenvolvida através de inúmeras gerações pelos brancos condiciona esses a reagirem depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos "padrões" aceitos pela maioria da sociedade. Por isso a discriminação ao comportamento de pessoas "diferentes".
Segundo Santos (2002), os grupos ciganos estão historicamente muito divididos no Brasil por terem trajetórias diferenciadas, formas e estilos de vida diversos. Provavelmente os primeiros ciganos Kalons chegaram ao Brasil no século XVI deportados da península ibérica. Chegados ao Brasil, os Kalons logo se espalharam pelas diversas capitanias. No século XVIII já se faziam numerosos, tanto quanto a intolerância dos governantes, que em várias capitanias lançavam mão de provisões e leis com o intuito de expulsá-los de suas áreas de controle.
O território cigano em estudo, encontra-se localizado na zona urbana do município de Ipameri, região sudeste do Estado de Goiás. Instalado nessa cidade, o território cigano é formado por uma comunidade, supostamente do grupo Kalon, que há décadas transitou por Ipameri. A área atualmente ocupada foi doada aos ciganos no final da década de 1990.
Em Ipameri, a relação entre ciganos e demais moradores aparece na fala de ambos os lados, principalmente, quando abordam o tempo dos mais idosos em comparação com a situação atual. Os ciganos em suas narrativas consideram que no território só existem parentes, incluindo os não ciganos que casaram com os ciganos. Desde os anos 60, do século passado, famílias e indivíduos ipamerinos chamados pelos ciganos de moradores passaram a se relacionar com a comunidade cigana. Esse segmento, também referido como amigos ou conhecidos pelos ciganos, compõe-se de pessoas que, realizam negócios, concedem serviços e doações, além, de visitar os ciganos em sua comunidade e de recebê-los em suas moradias. A maioria dos ipamerinos, pode igualmente ser incluída entre os moradores, porém, estranhos. Uma grande parte desses moradores sabe da presença de ciganos na cidade tendo como principal contato a mendicância realizada pelos mesmos.
A nível mais detalhado de caracterização, assim como percebe o não cigano dividido em dois tipos de sujeitos de acordo com sua participação na vida do território, o cigano fala de si próprio como sendo uma só categoria de sujeitos dentro de Ipameri.
Os ciganos são os “pobres e necessitados”.
Há ciganos no mundo em “situação muito melhor do que a gente”, mas, como categoria social, eles se identificam com os “pobres da cidade”. Já a nível de Povo Cigano, a comunidade cigana de Ipameri divide sua etnia em dois tipos. Há os “ciganos ricos” em todos os países, que têm uma vida muito boa em ralação aos bens materiais que possuem, e, o outro tipo de cigano, o qual a comunidade em estudo se denomina, é o “cigano pobre” que precisa de ajuda dos demais moradores de Ipameri. Em alguns momentos os ciganos se definem como não-diferentes de qualquer outro ipamerino, embora ao mesmo tempo eles e as pessoas próximas os definem como pobres e marginalizados.
Dada essa autocontradição básica dos ciganos, é compreensível que eles se esforcem para descobrir uma “doutrina” que forneça um sentido consistente à sua situação. Isso significa que os ciganos não só elaboram tal doutrina de vida por conta própria, mas também contam com a participação das pessoas com as quais convivem.
A participação dos não ciganos se dá com a apresentação de elementos presentes na identidade dos ciganos.
Os elementos apresentados aos ciganos, quer explícito ou implicitamente, tendem a cobrir certas questões-padrão. Um modelo desejável de revelação e ocultamento é proposto. Por exemplo, nos primeiros contatos e visitas no território cigano, eles afirmaram que eram iguais aos não ciganos e que a cultura cigana tinha desaparecido, posteriormente passaram a afirmar que eram diferentes dos demais moradores da cidade.
Outras questões-padrão estão relacionadas às fórmulas para se sair de situações delicadas, o apoio que eles deveriam dar a seus semelhantes; a confraternização que deveria ser mantida com os não ciganos e os tipos de preconceitos contra seus semelhantes que eles deveriam ignorar. Os ciganos, indivíduos que têm uma história e uma cultura comum, transmitem sua filiação ao longo de linhas de descendência, numa posição que lhes permite exigir sinais de lealdade de seus membros, e numa posição relativamente desvantajosa na sociedade.
Os ciganos algumas vezes, provavelmente, se vêem funcionando como indivíduos estigmatizados, inseguros sobre a recepção que os espera na interação face-a-face, e profundamente envolvidos nas várias respostas a essa situação. Isso ocorre pelo simples fato de que quase todos os ciganos são obrigados a manter relações com vários segmentos sociais da cidade, onde se supõe que prevaleça um tratamento cortês, uniforme, com base limitada apenas à cidadania, mas onde surgem oportunidades para uma preocupação com valorações expressivas hostis baseadas num ideal dos ciganos.
Quando o cigano fala dos demais moradores, fala de um “rico”, de “patrão”, de “fazendeiro”, de “vereador”. O não cigano do mesmo nível é um comerciante, um vizinho, um visitante. Ao falar dos demais moradores de Ipameri, em termos gerais, o cigano não encontra categorias definidas para explicá-lo como um grupo étnico. De forma semelhante a que muitos não ciganos se explicam, também os ciganos os consideram como “o povo que estava aí”, “os moradores da cidade”. No discurso do cigano, os demais moradores aparecem, sobretudo como “o amigo”. Nóis tem amizade já com o pessoal daqui, da cidade. Aqui é um lugar bão, um pessoal bão e amigo. (Aparecida, 57anos - 13/04/2002). Há uma diferença essencial entre a maneira como o cigano fala dos demais moradores, e como o não cigano fala do cigano em Ipameri. No discurso do não cigano, o cigano aparece com duas variações básicas de uma mesma identidade étnica: o “cigano generalizado” e o “cigano de Ipameri”. O “cigano generalizado”, assim como o “cigano de Ipameri”, estabelece uma separação, para os não ciganos, no mundo individual dos ciganos. A divisão ocorre, em primeiro lugar, entre os que conhecem e os que não conhecem.
Os que os conhecem são aqueles que têm uma identidade do cigano de Ipameri; eles só precisam vê-los ou ouvir sobre eles para trazer à cena essa informação. Os que não conhecem são aqueles para quem os ciganos de Ipameri são estranhos, pessoas cuja identidade de “cigano de Ipameri” não foi feita. Assim, a representação dos ciganos, no que se refere à sua identidade de “cigano generalizado” e “cigano de Ipameri”, varia muito segundo o conhecimento ou desconhecimento que as pessoas têm deles. Para falar dos ciganos de Ipameri, grande parte dos demais moradores da cidade (54%) que já ouviram falar, mas não conhecem o território, costumam estabelecer comparações com os ciganos que ouviram falar, tomados como paradigma, criando assim o “cigano generalizado”.
Os ciganos têm conhecimento desse fato. As pessoas que os conhecem, por sua vez podem saber ou não que os ciganos conhecem ou ignoram tal fato. Por outro lado, embora acreditem que os outros não os conhecem, eles nunca têm absoluta certeza disso.
Quando um cigano está entre pessoas para as quais ele é um estranho e só é reconhecido por uma ou mais características culturais em termos de sua identidade aparente e imediata, uma grande possibilidade com a qual eles se defrontam é de que essas pessoas comecem ou não a elaborar uma identificação para eles, pelo menos a recordação de tê-los visto em certo contexto conduzindo-se de uma determinada forma ou já ter lido e ouvido falar sobre ciganos. Por isso a interpretação dos demais moradores depende muito do contato com os ciganos do território. O tratamento que é dispensado aos ciganos tendo como base a sua identidade generalizada freqüentemente é dado pelas pessoas que não mantêm um vínculo social com os mesmos e também do tipo de contato. Ao se considerar só a identidade generalizada, pode ser útil e conveniente os não ciganos considerarem a má reputação ou infâmia que surge num círculo de pessoas que têm um mau conceito dos ciganos sem conhecê-los pessoalmente. Essa infâmia ou má reputação transformase em controle social que pode ser formal e informal. Dentro do círculo de pessoas que conhecem e têm informações sobre os ciganos do território de Ipameri, há um círculo menor daqueles que mantêm com eles um vínculo “social” maior. O reconhecimento social constituí-se no direito e na obrigação de trocar um cumprimento, uma saudação, uma visita ou uma doação. Os não ciganos que possuem esse contato maior sabem “de” e “sobre” os ciganos, e também os conhecem pessoalmente. Conheço o agrupamento cigano em Ipameri, eu e minha família já tivemos e temos vários contatos com eles, através de venda ou compra de cavalos, visitas ao agrupamento, doações feitas aos ciganos, nas festas e cerimônias ciganas. O meu avô contrata alguns ciganos para prestarem serviços na fazenda. É muito bom o relacionamento entre ciganos e não ciganos em Ipameri, eles são educados uns com os outros. Eles são humildes, minha família tem uma grande confiança neles, ao contrário que o povo fala que eles roubam. (R.G.O. - estudante - abr/2003).
O representante da Igreja Católica Brasileira de Goiandira(GO), padre Neto que realiza casamentos e batismos no território cigano fala sobre o relacionamento entre ciganos e a Igreja: Os ciganos sempre me procuram, já tem quase dois anos que os conheço. A gente respeita o diferente do outro (...) não devemos impor. É uma troca, você dá e recebe.
No passado era diferente, a concepção da Igreja era impor, hoje é diferente, nós temos que levar e receber, eu estou aqui, eu estou aprendendo também com eles. No entanto, se eu chegar em outro lugar, e se falar sobre os ciganos, eu posso falar, porque eu conheço, eu já estive com eles, eu só posso falar daquilo que eu sei, normalmente as pessoas falam sem conhecer (...).
Todo ser humano deve ser respeitado, a cultura diferente é uma troca de experiência, onde eu dou e recebo. (mai/2002). Parece que a imagem pública dos ciganos de Ipameri, ou seja, as suas imagens disponíveis para aqueles que não os conhecem pessoalmente, é, necessariamente, um tanto diversa da imagem que eles projetam através do trato direto com aqueles que os conhecem pessoalmente. A imagem pública dos ciganos é constituída a partir de uma seleção de fatos sobre eles que podem ser verdadeiros ou não e que se expandiu até adquirir uma aparência dramática e digna de atenção tendo como conseqüência o aparecimento de vários estigmas e ainda conforme Goffman (1988) a manipulação da identidade pessoal. Viu-se que a identidade generalizada dos ciganos divide o seu mundo de pessoas e espaços, o que faz também a sua identidade de cigano de Ipameri, embora de maneira diferente. Esses quadros de referências foram possíveis com a intensificação dos contatos com os ciganos e a pesquisa realizada com os demais moradores, identificando as diversas situações sociais que os ciganos participam. Assim, será tentativa a seguir, mostrar que o cigano generalizado e o cigano de Ipameri são partes, antes de mais nada, dos interesses e definições de outras pessoas em relação ao cigano.
Em 1782 aconteceu no condado de Hont (então parte da Hungria, hoje parte da Eslováquia), segundo Grellmenn apud Fonseca (1996) torturas de ciganos acusados de canibalistas. Um dos casos envolvia mais de 150 ciganos, 41 dos quais foram torturados até arrancarem deles confissões de canibalismo. Quinze homens foram enforcados, seis tiveram os ossos partidos na roda, dois foram esquartejados e dezoito mulheres decapitadas, antes mesmo que a investigação ordenada pelo monarca Habsburgo José II revelasse que todas as pretensas vítimas dos ciganos estavam vivas.
A jornalista Izabel Fonseca (1996) relata que em abril de 1991, em Bolintin Deal, uma cidade cerca de setenta quilômetros de Bucareste, um estudante de música de 23 anos foi morto por um cigano, e como retaliação, dezoito casas ciganas foram inteiramente queimadas numa única noite. Três anos depois, só o assassino, o cigano, mas nenhum dos incendiários havia sido processado.
O prefeito dessa pequena cidade havia sido transformado em herói local: era um eloqüente quanto ao princípio de predomínio da maioria, “a vontade do povo” e seu dever de protegê-lo e proteger o “direito de autodeterminação” dos romenos (etnicamente puros), o que significava seu direito de decidir qual seria a composição étnica de sua cidade. Quando a autora visitou a cidade em 1994, os moradores não demonstravam sinal de arrependimento. Ao contrário, tinham orgulho dessa atitude ter sido noticiada no jornal da noite, e melhor ainda, que a reportagem tivesse inspirado eventos semelhantes por todo o país.
No Brasil um alvará de 1760 informa às autoridades de nosso país: "Eu El Rei faço saber aos que este Alvará de Lei virem que sendo me presente que os ciganos que deste Reino tem sido degredados para o Estado do Brasil vivem tanto à disposição de sua vontade que usando dos seus prejudiciais costumes com total infração das minhas Leis, causam intolerável incômodo aos moradores, cometendo continuados furtos de cavalos, e escravos, e fazendo-se formidáveis por andarem sempre incorporados e carregados de armas de fogo pelas estradas, onde com declarada violência praticam mais a seu salvo os seus perniciosos procedimentos; considerando que assim, para sossego público, como para correção de gente tão inútil e mal educada se faz preciso obrigá-los pelos termos mais fortes e eficazes a tomar vida civil (...) que vivam em bairros separados, nem todos juntos, e lhes não seja permitido trazerem armas, não só as que pelas minhas leis são proibidas, que de nenhuma maneira se lhes consentirão, nem ainda nas viagens, mas também aqueles que lhes poderão servir de adorno. E que as mulheres vivam recolhidas e se ocupem naqueles mesmos exercícios de que usam as do país. E hei por bem que pela mais leve transgressão do que neste alvará ordeno, o que for compreendido, nela seja degredado por toda a vida para a ilha de São Thomé, ou do Príncipe, sem mais ordem e figura de juízo (....).”(China, 1936: 399 apud Teixeira, 1998) Três momentos. Em 1760, 1782 e 1991. Mais do que isto, três atitudes fundamentais diante de um mesmo problema: o problema do OUTRO. São relatos que mostram a desqualificação do Outro em referência ao valor reafirmado do próprio EU. O Outro: um problema recorrente para os ciganos nas várias etapas de sua história, ao longo de sua experiência, individual e coletiva. *Roque de Barros Laraia (1999) procurou demonstrar como a cultura influencia o comportamento social e diversifica enormemente a humanidade.
Para ele a nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos “padrões” aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento de pessoas “diferentes” de nós.
Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural. Para Laraia, o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são produtos de uma herança cultural.
Assim, pode-se entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes como os ciganos são identificados por suas características culturais. Constantemente observa-se uma grande dicotomia entre “nós” e os “outros” e que comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas, dos padrões culturais de povos diferentes. A aproximação e o convívio no Território Cigano em Ipameri, as observações, os questionários e as entrevistas em vários segmentos sociais da cidade, bem como o estudo bibliográfico, mostraram que as práticas racistas constroem-se e são reiteradamente repetidas a partir de preconceitos que grupos étnicos tidos como superiores têm acerca da história e do modo de vida daqueles considerados inferiores.
Para a maioria dos não ciganos entrevistados em Ipameri, o relacionamento entre eles e os ciganos na cidade é regular (54%). Como 21% considera o relacionamento ruim, vê-se que apenas 25% considera as relações entre ciganos e demais moradores em Ipameri como boa e muito boa. Esse relacionamento regular é justificado por 44% dos entrevistados devido ao preconceito existente por parte dos não ciganos. Segundo Raffestin (1993) não há superioridade absoluta e, menos ainda, inferioridade absoluta.
Só há superioridade e inferioridade relativas. A passagem do relativo ao absoluto se inscreve num mecanismo de dominação para fazer triunfar um poder. Assim, as diferenças étnicas, quando não estão mais latentes na consciência servem para alimentar um preconceito útil a afirmação de um poder. Ainda para Raffestin, as diferenças étnicas constituem um fator político, que pode ser virtual ou pode ser concreto.
E toda tentativa de reduzir as diferenças, entre indivíduos ou sociedades, ou de impor um modelo único é um genocídio que pode tomar múltiplas formas. Esse genocídio que, de um ponto de vista geral, enfraquece a autonomia da espécie no seu conjunto, cria um paradoxo de um certo “mundialismo”. Discutindo as abordagens sobre a integração ou afastamento social dos ciganos através de suas ações sociais e políticas, Martinez (1989) critica certos autores “tradicionais” que criaram uma “identidade” cigana apresentada como um espelho a todos os ciganos, dizendo que todos eles formariam um povo único, uma raça com uma cultura e uma linguagem comum. O que comumente se estuda é o cigano enquanto povo único com uma cultura generalizada. Um povo visto com receio e desconfiança pelos não ciganos, que muitas vezes os atacam, praticando injustiças, emprestando-lhe má fama e a reputação de ladrões. Assim, reconhecer e discutir a diversidade cigana também pode ser um importante passo para que eles se percebam em um mundo complexo em que é necessário questionar o valor da hegemonia de um padrão cultural único. A idéia de um povo cigano único oculta que os mesmos, apesar de compartilharem certas características étnicas são portadores de culturas diversas e podem ou não experimentar relações conflituosas com os não ciganos.
Desse modo, acredita-se que os ciganos devem ser apresentados não apenas enquanto importantes agentes sociais, como também enquanto aqueles que foram capazes de resistir/aceitar/sobreviver, no interior do campo de relações a que estiveram expostos, tendo cada cigano sua peculiaridade, sua particularidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Organizada por Cláudio Brandão de Oliveira, Rio de Janeiro, Ed. DP e A, 10ª ed, 2002. FONSECA, Isabel. Enterrem-me em pé: Os Ciganos e a sua jornada. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo. Companhia das Letras, Título Original: Bury me standing: the gypsies and their journey, (1995), 1996. GODWIN, Peter. Ciganos: eternos intrusos. Revista National Geographic. Brasil, p. 58-89. (abril/2001) GOFFMAN, Erving. Estigma - notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro - LTC Editora. Tradução de Márcia Bandeira de M. L. Nunes. Título original: Stigma - notes on the management of spoiled identity. (1963), 1988. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro, Ed. Jorge Zahar,.. 1ª edição (1986). 12ª ed. ,1999. MARTINEZ, Nicole. Os ciganos. Tradução de Josette Gian. Campinas ( SP ). Papirus. Título original: Les tsiganes, 1989. MORAES FILHO, Melo. Os Ciganos no Brasil e o Cancioneiro dos Ciganos. Belo Horizonte. Ed. Itatiaia e EDUSP. Título original: Os Ciganos no Brazil e Cancioneiro dos Ciganos. B. L. Garnier. Rio de Janeiro, (1886), 1981. RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder.Tradução de Maria Cecília França. São Paulo, Ática. Título original: Pour une geographie du pouvoir, (1980), 1993. SANTOS, Virgínia R. dos. Espacialidade e territorialidade dos grupos ciganos na cidade de São Paulo. Dissertação-Mestrado, USP, FFLCH. 2002. SCHEPIS, Rosaly Marisa. Ciganos: os filhos Mágicos da Natureza. São Paulo (SP) Madras, 1997. TEIXEIRA, Rodrigo C. A questão cigana: uma introdução. Correrias de ciganos pelo território mineiro. Dissertação-Mestrado em História, Belo Horizonte, UFMG, 1998. Publicado originalmente em: Revista Trilhos – Revista da Faculdade do Sudeste Goiano. Pires do Rio. V-3, nº 3 (2005), p. 95-109.
(Rádio Difusora - Goiânia-GO) em julho de 2000.
Transcrição feita por Ademir Divino Vaz.
Publicado originalmente em: Revista Trilhos – Revista da Faculdade do Sudeste Goiano.
Pires do Rio. V-3, nº 3 (2005), p. 95-109.
JOSÉ, TEREZA, ZÉLIA... E SUA COMUNIDADE...
UM TERRITÓRIO CIGANO
Ademir Divino Vaz1 - ad.vaz@bol.com.br
RESUMO:
Contudo, não se pode explicar os ciganos pelo que lhes falta, tendo como ponto de referência a nossa sociedade, pois assim, deixa-se de ter uma melhor compreensão da sua realidade. Pensando na essência da realidade cigana, este artigo traz inicialmente uma breve caracterização histórica dos ciganos, apresentando a trajetória de poucos direitos e na seqüência apresenta as relações sociais entre ciganos e não-ciganos na cidade de Ipameri, sudeste de Goiás.
Uma origem complexa e uma trajetória de poucos direitos
O amor à liberdade, à natureza, e a sabedoria de viver representada por um conjunto de tradições e crenças, fazem parte de uma cultura fascinante e polêmica de um povo amante da música, das cores alegres e da dança.
Tais características são inerentes à cultura cigana. Para esse povo o importante é o momento presente. O passado é experiência e lembranças, e o futuro uma expectativa aventureira de conseguir sobreviver à margem de uma sociedade, que por muito tempo não conhecia a origem desse povo. São traços predominantes de uma doutrina hedonista, que considera o prazer como fim último e universal da conduta humana.
Foi difícil distinguir entre a lenda e a história com respeito à origem dos ciganos. Para Peter Godwin (2001) somente no século XIX, através de pesquisas lingüísticas e antropológicas, graças a indícios nos vários dialetos de seu idioma - o romani - chega-se a conclusão de que os ciganos, provêm da região de Gurajati, norte da Índia e que foram para o Oriente Médio há cerca de mil anos.
As informações mostram que, os ciganos migraram da península indiana para Europa há quase mil anos. Espalharam-se pelo continente europeu deixando de ser um povo homogêneo. Nos séculos XVI e XVII foram expulsos de vários países e passaram a ser associados aos criminosos, aos propagadores de epidemias e aos ladrões. Esta racionalização negativa era aceita pela maioria, para justificar as medidas de expulsão ou de distanciamento.
A história dos ciganos foi marcada também por perseguições e preconceitos durante a sua dispersão pelo mundo a partir do século XI. Segundo Martinez (1989), na Moldávia e na Valáquia, atualmente Romênia, os ciganos foram escravizados durante 300 anos; na Albânia e na Grécia pagavam impostos mais altos. Também na Hungria conheceram a escravatura. E os ingleses expulsavam, sob pena de morte, aqueles que se recusavam a fixar residência, ou seja, os ciganos. Na Alemanha, crianças ciganas eram tiradas dos pais com a desculpa de que "iriam estudar", enquanto a Polônia, a Dinamarca e a Áustria puniam com severidade quem os acolhesse. Pior ainda acontecia nos países Baixos, onde inúmeros ciganos foram condenados à forca e seus filhos obrigados a assistir à execução para aprender a "lição de moral".
Schepis (1997) reforça os exemplos de perseguições, preconceitos e discriminações sofridas pelos ciganos. Para ela, na Sérvia e na Romênia eles foram mantidos em estado de escravidão por um certo tempo e a caça ao cigano aconteceu com muita crueldade e com bárbaros tratamentos.
A hostilidade ao cigano vem devido aos seus hábitos de vida muito diferentes daqueles que tinham as populações sedentárias. Eles eram, também, considerados inimigos da Igreja, a qual condenava as práticas ligadas ao sobrenatural, como a cartomancia e a leitura das mãos que os ciganos costumavam exercer.
A falta de uma ligação histórica precisa a uma pátria definida ou a uma origem segura não permitia o reconhecimento como grupo étnico bem individualizado. A oposição aos ciganos se delineou também nas corporações, que tendiam a excluir os concorrentes no artesanato, sobretudo no âmbito do trabalho com metais. O clima de suspeitas e preconceitos é mais uma vez percebido por Martinez (1989) na criação de lenda e provérbios tendendo a pôr os ciganos sob mau conceito, a ponto de recorrer-se à Bíblia para considerá-los descendentes de Cã, e , portanto, malditos (Gênesis, 9:25). Difundiu-se também a lenda de que eles teriam fabricado os pregos que serviram para crucificar Cristo (ou, segundo outra versão, que eles teriam roubado o quarto prego, tornando assim mais dolorosa a crucificação do Senhor).
Comerciantes natos, artesãos de cobre, metais e ourives, artistas, músicos e as mulheres leitoras da sorte, nunca passaram despercebidas na história da humanidade. Sob o nazismo, os ciganos tiveram um tratamento similar ao dos judeus: muitos deles foram enviados aos campos de concentração, onde foram submetidos à experiências de esterilização, usados como cobaias humanas. Calcula-se que meio milhão de ciganos tenham sido eliminados durante o regime nazista.
É difícil traçar os rumos tomados pelos ciganos no Brasil. Sabe-se que os primeiros que vieram para o Brasil, estabeleceram-se em Pernambuco, na Bahia e Minas Gerais, "o rumo posteriormente tomado pelos deportados, quantos internaram-se nas florestas ou permaneceram nos centros colonizados, é uma questão complexa e de resolução dificílima" (Moraes Filho, 1981:27). No Brasil nunca existiu uma política pró-cigano, nem leis que tratam especificamente das minorias ciganas. No entanto, na constituição da República Federativa do Brasil promulgada em 1988 existem alguns artigos que por extensão podem também ser aplicados aos ciganos. No artigo 3° evidencia-se como um dos objetivos fundamentais da República Federativa do Brasil a promoção do bem a todos, sem preconceitos de origem, raça, sexo, cor, idade e quaisquer outras formas de discriminação.
No artigo 5° está escrito que todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e estrangeiros residentes no país, inviolabilidade de direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade. Desta maneira, observa-se na Constituição Brasileira o direito a não-discriminação, o que na maioria das vezes só fica na teoria.
Ainda no artigo 5º percebe-se o direito à livre locomoção no território nacional em tempo de paz, podendo qualquer pessoa, nos termos da lei, nele entrar, permanecer ou dele sair com seus bens. Esse, provavelmente, é o direito mais importante para a maioria dos ciganos, o direito à livre locomoção. Nota-se, portanto, na Constituição brasileira a garantia de alguns direitos que cabem também aos ciganos. Porém, na prática, conforme já foi mencionado, muitos destes direitos são constantemente ignorados e violentados.
Mio Vacite, representante da União cigana do Brasil, fala sobre a origem do preconceito que cerca o povo cigano: Não se pode dizer que a origem é esta ou aquela, uma única coisa. São vários fatores: primeiro é o nomadismo, o modo de vida ser diferente, seria a barganha, o comércio. Essa discriminação gerou-se porque nós infelizmente fomos rotulados pela sociedade branca que não admitia que nós somos um povo livre e tivesse nossa própria cultura. Isso eu falo nos termos da época do Brasil Colonial e Imperial. (...) Dizem que os ciganos roubavam crianças. Existem controvérsias sobre isso. (...) Naquela época de 1500, 1600, 1700, onde as moças da sociedade se perdiam, então havia aquele problema. Então era mandada para Europa para estudarem piano num convento, esperando que a criança nascesse, e as freiras davam essas crianças aos nômades que passavam. Daí via-se em alguns acampamentos, ciganas loiras de olhos azuis. (...) Daí criaram as controvérsias, esses mal entendidos.2
Pelo depoimento percebe-se que o preconceito aos ciganos no Brasil advém do diferente modo de vida deles e que a herança cultural desenvolvida através de inúmeras gerações pelos brancos condiciona esses a reagirem depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos "padrões" aceitos pela maioria da sociedade. Por isso a discriminação ao comportamento de pessoas "diferentes".
Segundo Santos (2002), os grupos ciganos estão historicamente muito divididos no Brasil por terem trajetórias diferenciadas, formas e estilos de vida diversos. Provavelmente os primeiros ciganos Kalons chegaram ao Brasil no século XVI deportados da península ibérica. Chegados ao Brasil, os Kalons logo se espalharam pelas diversas capitanias. No século XVIII já se faziam numerosos, tanto quanto a intolerância dos governantes, que em várias capitanias lançavam mão de provisões e leis com o intuito de expulsá-los de suas áreas de controle.
O território cigano em estudo, encontra-se localizado na zona urbana do município de Ipameri, região sudeste do Estado de Goiás. Instalado nessa cidade, o território cigano é formado por uma comunidade, supostamente do grupo Kalon, que há décadas transitou por Ipameri. A área atualmente ocupada foi doada aos ciganos no final da década de 1990.
Ciganos Parentes, Moradores Conhecidos e Moradores Estranhos
Em Ipameri, a relação entre ciganos e demais moradores aparece na fala de ambos os lados, principalmente, quando abordam o tempo dos mais idosos em comparação com a situação atual. Os ciganos em suas narrativas consideram que no território só existem parentes, incluindo os não ciganos que casaram com os ciganos. Desde os anos 60, do século passado, famílias e indivíduos ipamerinos chamados pelos ciganos de moradores passaram a se relacionar com a comunidade cigana. Esse segmento, também referido como amigos ou conhecidos pelos ciganos, compõe-se de pessoas que, realizam negócios, concedem serviços e doações, além, de visitar os ciganos em sua comunidade e de recebê-los em suas moradias. A maioria dos ipamerinos, pode igualmente ser incluída entre os moradores, porém, estranhos. Uma grande parte desses moradores sabe da presença de ciganos na cidade tendo como principal contato a mendicância realizada pelos mesmos.
A nível mais detalhado de caracterização, assim como percebe o não cigano dividido em dois tipos de sujeitos de acordo com sua participação na vida do território, o cigano fala de si próprio como sendo uma só categoria de sujeitos dentro de Ipameri.
Os ciganos são os “pobres e necessitados”.
Há ciganos no mundo em “situação muito melhor do que a gente”, mas, como categoria social, eles se identificam com os “pobres da cidade”. Já a nível de Povo Cigano, a comunidade cigana de Ipameri divide sua etnia em dois tipos. Há os “ciganos ricos” em todos os países, que têm uma vida muito boa em ralação aos bens materiais que possuem, e, o outro tipo de cigano, o qual a comunidade em estudo se denomina, é o “cigano pobre” que precisa de ajuda dos demais moradores de Ipameri. Em alguns momentos os ciganos se definem como não-diferentes de qualquer outro ipamerino, embora ao mesmo tempo eles e as pessoas próximas os definem como pobres e marginalizados.
Dada essa autocontradição básica dos ciganos, é compreensível que eles se esforcem para descobrir uma “doutrina” que forneça um sentido consistente à sua situação. Isso significa que os ciganos não só elaboram tal doutrina de vida por conta própria, mas também contam com a participação das pessoas com as quais convivem.
A participação dos não ciganos se dá com a apresentação de elementos presentes na identidade dos ciganos.
Os elementos apresentados aos ciganos, quer explícito ou implicitamente, tendem a cobrir certas questões-padrão. Um modelo desejável de revelação e ocultamento é proposto. Por exemplo, nos primeiros contatos e visitas no território cigano, eles afirmaram que eram iguais aos não ciganos e que a cultura cigana tinha desaparecido, posteriormente passaram a afirmar que eram diferentes dos demais moradores da cidade.
Outras questões-padrão estão relacionadas às fórmulas para se sair de situações delicadas, o apoio que eles deveriam dar a seus semelhantes; a confraternização que deveria ser mantida com os não ciganos e os tipos de preconceitos contra seus semelhantes que eles deveriam ignorar. Os ciganos, indivíduos que têm uma história e uma cultura comum, transmitem sua filiação ao longo de linhas de descendência, numa posição que lhes permite exigir sinais de lealdade de seus membros, e numa posição relativamente desvantajosa na sociedade.
Os ciganos algumas vezes, provavelmente, se vêem funcionando como indivíduos estigmatizados, inseguros sobre a recepção que os espera na interação face-a-face, e profundamente envolvidos nas várias respostas a essa situação. Isso ocorre pelo simples fato de que quase todos os ciganos são obrigados a manter relações com vários segmentos sociais da cidade, onde se supõe que prevaleça um tratamento cortês, uniforme, com base limitada apenas à cidadania, mas onde surgem oportunidades para uma preocupação com valorações expressivas hostis baseadas num ideal dos ciganos.
Quando o cigano fala dos demais moradores, fala de um “rico”, de “patrão”, de “fazendeiro”, de “vereador”. O não cigano do mesmo nível é um comerciante, um vizinho, um visitante. Ao falar dos demais moradores de Ipameri, em termos gerais, o cigano não encontra categorias definidas para explicá-lo como um grupo étnico. De forma semelhante a que muitos não ciganos se explicam, também os ciganos os consideram como “o povo que estava aí”, “os moradores da cidade”. No discurso do cigano, os demais moradores aparecem, sobretudo como “o amigo”. Nóis tem amizade já com o pessoal daqui, da cidade. Aqui é um lugar bão, um pessoal bão e amigo. (Aparecida, 57anos - 13/04/2002). Há uma diferença essencial entre a maneira como o cigano fala dos demais moradores, e como o não cigano fala do cigano em Ipameri. No discurso do não cigano, o cigano aparece com duas variações básicas de uma mesma identidade étnica: o “cigano generalizado” e o “cigano de Ipameri”. O “cigano generalizado”, assim como o “cigano de Ipameri”, estabelece uma separação, para os não ciganos, no mundo individual dos ciganos. A divisão ocorre, em primeiro lugar, entre os que conhecem e os que não conhecem.
Os que os conhecem são aqueles que têm uma identidade do cigano de Ipameri; eles só precisam vê-los ou ouvir sobre eles para trazer à cena essa informação. Os que não conhecem são aqueles para quem os ciganos de Ipameri são estranhos, pessoas cuja identidade de “cigano de Ipameri” não foi feita. Assim, a representação dos ciganos, no que se refere à sua identidade de “cigano generalizado” e “cigano de Ipameri”, varia muito segundo o conhecimento ou desconhecimento que as pessoas têm deles. Para falar dos ciganos de Ipameri, grande parte dos demais moradores da cidade (54%) que já ouviram falar, mas não conhecem o território, costumam estabelecer comparações com os ciganos que ouviram falar, tomados como paradigma, criando assim o “cigano generalizado”.
Os ciganos têm conhecimento desse fato. As pessoas que os conhecem, por sua vez podem saber ou não que os ciganos conhecem ou ignoram tal fato. Por outro lado, embora acreditem que os outros não os conhecem, eles nunca têm absoluta certeza disso.
Quando um cigano está entre pessoas para as quais ele é um estranho e só é reconhecido por uma ou mais características culturais em termos de sua identidade aparente e imediata, uma grande possibilidade com a qual eles se defrontam é de que essas pessoas comecem ou não a elaborar uma identificação para eles, pelo menos a recordação de tê-los visto em certo contexto conduzindo-se de uma determinada forma ou já ter lido e ouvido falar sobre ciganos. Por isso a interpretação dos demais moradores depende muito do contato com os ciganos do território. O tratamento que é dispensado aos ciganos tendo como base a sua identidade generalizada freqüentemente é dado pelas pessoas que não mantêm um vínculo social com os mesmos e também do tipo de contato. Ao se considerar só a identidade generalizada, pode ser útil e conveniente os não ciganos considerarem a má reputação ou infâmia que surge num círculo de pessoas que têm um mau conceito dos ciganos sem conhecê-los pessoalmente. Essa infâmia ou má reputação transformase em controle social que pode ser formal e informal. Dentro do círculo de pessoas que conhecem e têm informações sobre os ciganos do território de Ipameri, há um círculo menor daqueles que mantêm com eles um vínculo “social” maior. O reconhecimento social constituí-se no direito e na obrigação de trocar um cumprimento, uma saudação, uma visita ou uma doação. Os não ciganos que possuem esse contato maior sabem “de” e “sobre” os ciganos, e também os conhecem pessoalmente. Conheço o agrupamento cigano em Ipameri, eu e minha família já tivemos e temos vários contatos com eles, através de venda ou compra de cavalos, visitas ao agrupamento, doações feitas aos ciganos, nas festas e cerimônias ciganas. O meu avô contrata alguns ciganos para prestarem serviços na fazenda. É muito bom o relacionamento entre ciganos e não ciganos em Ipameri, eles são educados uns com os outros. Eles são humildes, minha família tem uma grande confiança neles, ao contrário que o povo fala que eles roubam. (R.G.O. - estudante - abr/2003).
O representante da Igreja Católica Brasileira de Goiandira(GO), padre Neto que realiza casamentos e batismos no território cigano fala sobre o relacionamento entre ciganos e a Igreja: Os ciganos sempre me procuram, já tem quase dois anos que os conheço. A gente respeita o diferente do outro (...) não devemos impor. É uma troca, você dá e recebe.
No passado era diferente, a concepção da Igreja era impor, hoje é diferente, nós temos que levar e receber, eu estou aqui, eu estou aprendendo também com eles. No entanto, se eu chegar em outro lugar, e se falar sobre os ciganos, eu posso falar, porque eu conheço, eu já estive com eles, eu só posso falar daquilo que eu sei, normalmente as pessoas falam sem conhecer (...).
Todo ser humano deve ser respeitado, a cultura diferente é uma troca de experiência, onde eu dou e recebo. (mai/2002). Parece que a imagem pública dos ciganos de Ipameri, ou seja, as suas imagens disponíveis para aqueles que não os conhecem pessoalmente, é, necessariamente, um tanto diversa da imagem que eles projetam através do trato direto com aqueles que os conhecem pessoalmente. A imagem pública dos ciganos é constituída a partir de uma seleção de fatos sobre eles que podem ser verdadeiros ou não e que se expandiu até adquirir uma aparência dramática e digna de atenção tendo como conseqüência o aparecimento de vários estigmas e ainda conforme Goffman (1988) a manipulação da identidade pessoal. Viu-se que a identidade generalizada dos ciganos divide o seu mundo de pessoas e espaços, o que faz também a sua identidade de cigano de Ipameri, embora de maneira diferente. Esses quadros de referências foram possíveis com a intensificação dos contatos com os ciganos e a pesquisa realizada com os demais moradores, identificando as diversas situações sociais que os ciganos participam. Assim, será tentativa a seguir, mostrar que o cigano generalizado e o cigano de Ipameri são partes, antes de mais nada, dos interesses e definições de outras pessoas em relação ao cigano.
O Cigano e o Outro; O Outro e o Cigano
Em 1782 aconteceu no condado de Hont (então parte da Hungria, hoje parte da Eslováquia), segundo Grellmenn apud Fonseca (1996) torturas de ciganos acusados de canibalistas. Um dos casos envolvia mais de 150 ciganos, 41 dos quais foram torturados até arrancarem deles confissões de canibalismo. Quinze homens foram enforcados, seis tiveram os ossos partidos na roda, dois foram esquartejados e dezoito mulheres decapitadas, antes mesmo que a investigação ordenada pelo monarca Habsburgo José II revelasse que todas as pretensas vítimas dos ciganos estavam vivas.
A jornalista Izabel Fonseca (1996) relata que em abril de 1991, em Bolintin Deal, uma cidade cerca de setenta quilômetros de Bucareste, um estudante de música de 23 anos foi morto por um cigano, e como retaliação, dezoito casas ciganas foram inteiramente queimadas numa única noite. Três anos depois, só o assassino, o cigano, mas nenhum dos incendiários havia sido processado.
O prefeito dessa pequena cidade havia sido transformado em herói local: era um eloqüente quanto ao princípio de predomínio da maioria, “a vontade do povo” e seu dever de protegê-lo e proteger o “direito de autodeterminação” dos romenos (etnicamente puros), o que significava seu direito de decidir qual seria a composição étnica de sua cidade. Quando a autora visitou a cidade em 1994, os moradores não demonstravam sinal de arrependimento. Ao contrário, tinham orgulho dessa atitude ter sido noticiada no jornal da noite, e melhor ainda, que a reportagem tivesse inspirado eventos semelhantes por todo o país.
No Brasil um alvará de 1760 informa às autoridades de nosso país: "Eu El Rei faço saber aos que este Alvará de Lei virem que sendo me presente que os ciganos que deste Reino tem sido degredados para o Estado do Brasil vivem tanto à disposição de sua vontade que usando dos seus prejudiciais costumes com total infração das minhas Leis, causam intolerável incômodo aos moradores, cometendo continuados furtos de cavalos, e escravos, e fazendo-se formidáveis por andarem sempre incorporados e carregados de armas de fogo pelas estradas, onde com declarada violência praticam mais a seu salvo os seus perniciosos procedimentos; considerando que assim, para sossego público, como para correção de gente tão inútil e mal educada se faz preciso obrigá-los pelos termos mais fortes e eficazes a tomar vida civil (...) que vivam em bairros separados, nem todos juntos, e lhes não seja permitido trazerem armas, não só as que pelas minhas leis são proibidas, que de nenhuma maneira se lhes consentirão, nem ainda nas viagens, mas também aqueles que lhes poderão servir de adorno. E que as mulheres vivam recolhidas e se ocupem naqueles mesmos exercícios de que usam as do país. E hei por bem que pela mais leve transgressão do que neste alvará ordeno, o que for compreendido, nela seja degredado por toda a vida para a ilha de São Thomé, ou do Príncipe, sem mais ordem e figura de juízo (....).”(China, 1936: 399 apud Teixeira, 1998) Três momentos. Em 1760, 1782 e 1991. Mais do que isto, três atitudes fundamentais diante de um mesmo problema: o problema do OUTRO. São relatos que mostram a desqualificação do Outro em referência ao valor reafirmado do próprio EU. O Outro: um problema recorrente para os ciganos nas várias etapas de sua história, ao longo de sua experiência, individual e coletiva. *Roque de Barros Laraia (1999) procurou demonstrar como a cultura influencia o comportamento social e diversifica enormemente a humanidade.
Para ele a nossa herança cultural, desenvolvida através de inúmeras gerações, sempre nos condicionou a reagir depreciativamente em relação ao comportamento daqueles que agem fora dos “padrões” aceitos pela maioria da comunidade. Por isto, discriminamos o comportamento de pessoas “diferentes” de nós.
Tal fato representa um tipo de comportamento padronizado por um sistema cultural. Para Laraia, o modo de ver o mundo, as apreciações de ordem moral e valorativa, os diferentes comportamentos sociais e mesmo as posturas corporais são produtos de uma herança cultural.
Assim, pode-se entender o fato de que indivíduos de culturas diferentes como os ciganos são identificados por suas características culturais. Constantemente observa-se uma grande dicotomia entre “nós” e os “outros” e que comportamentos etnocêntricos resultam em apreciações negativas, dos padrões culturais de povos diferentes. A aproximação e o convívio no Território Cigano em Ipameri, as observações, os questionários e as entrevistas em vários segmentos sociais da cidade, bem como o estudo bibliográfico, mostraram que as práticas racistas constroem-se e são reiteradamente repetidas a partir de preconceitos que grupos étnicos tidos como superiores têm acerca da história e do modo de vida daqueles considerados inferiores.
Para a maioria dos não ciganos entrevistados em Ipameri, o relacionamento entre eles e os ciganos na cidade é regular (54%). Como 21% considera o relacionamento ruim, vê-se que apenas 25% considera as relações entre ciganos e demais moradores em Ipameri como boa e muito boa. Esse relacionamento regular é justificado por 44% dos entrevistados devido ao preconceito existente por parte dos não ciganos. Segundo Raffestin (1993) não há superioridade absoluta e, menos ainda, inferioridade absoluta.
Só há superioridade e inferioridade relativas. A passagem do relativo ao absoluto se inscreve num mecanismo de dominação para fazer triunfar um poder. Assim, as diferenças étnicas, quando não estão mais latentes na consciência servem para alimentar um preconceito útil a afirmação de um poder. Ainda para Raffestin, as diferenças étnicas constituem um fator político, que pode ser virtual ou pode ser concreto.
E toda tentativa de reduzir as diferenças, entre indivíduos ou sociedades, ou de impor um modelo único é um genocídio que pode tomar múltiplas formas. Esse genocídio que, de um ponto de vista geral, enfraquece a autonomia da espécie no seu conjunto, cria um paradoxo de um certo “mundialismo”. Discutindo as abordagens sobre a integração ou afastamento social dos ciganos através de suas ações sociais e políticas, Martinez (1989) critica certos autores “tradicionais” que criaram uma “identidade” cigana apresentada como um espelho a todos os ciganos, dizendo que todos eles formariam um povo único, uma raça com uma cultura e uma linguagem comum. O que comumente se estuda é o cigano enquanto povo único com uma cultura generalizada. Um povo visto com receio e desconfiança pelos não ciganos, que muitas vezes os atacam, praticando injustiças, emprestando-lhe má fama e a reputação de ladrões. Assim, reconhecer e discutir a diversidade cigana também pode ser um importante passo para que eles se percebam em um mundo complexo em que é necessário questionar o valor da hegemonia de um padrão cultural único. A idéia de um povo cigano único oculta que os mesmos, apesar de compartilharem certas características étnicas são portadores de culturas diversas e podem ou não experimentar relações conflituosas com os não ciganos.
Desse modo, acredita-se que os ciganos devem ser apresentados não apenas enquanto importantes agentes sociais, como também enquanto aqueles que foram capazes de resistir/aceitar/sobreviver, no interior do campo de relações a que estiveram expostos, tendo cada cigano sua peculiaridade, sua particularidade.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL. Organizada por Cláudio Brandão de Oliveira, Rio de Janeiro, Ed. DP e A, 10ª ed, 2002. FONSECA, Isabel. Enterrem-me em pé: Os Ciganos e a sua jornada. Tradução de José Rubens Siqueira. São Paulo. Companhia das Letras, Título Original: Bury me standing: the gypsies and their journey, (1995), 1996. GODWIN, Peter. Ciganos: eternos intrusos. Revista National Geographic. Brasil, p. 58-89. (abril/2001) GOFFMAN, Erving. Estigma - notas sobre a manipulação da identidade deteriorada. Rio de Janeiro - LTC Editora. Tradução de Márcia Bandeira de M. L. Nunes. Título original: Stigma - notes on the management of spoiled identity. (1963), 1988. LARAIA, Roque de Barros. Cultura: um conceito antropológico. Rio de Janeiro, Ed. Jorge Zahar,.. 1ª edição (1986). 12ª ed. ,1999. MARTINEZ, Nicole. Os ciganos. Tradução de Josette Gian. Campinas ( SP ). Papirus. Título original: Les tsiganes, 1989. MORAES FILHO, Melo. Os Ciganos no Brasil e o Cancioneiro dos Ciganos. Belo Horizonte. Ed. Itatiaia e EDUSP. Título original: Os Ciganos no Brazil e Cancioneiro dos Ciganos. B. L. Garnier. Rio de Janeiro, (1886), 1981. RAFFESTIN, C. Por uma Geografia do Poder.Tradução de Maria Cecília França. São Paulo, Ática. Título original: Pour une geographie du pouvoir, (1980), 1993. SANTOS, Virgínia R. dos. Espacialidade e territorialidade dos grupos ciganos na cidade de São Paulo. Dissertação-Mestrado, USP, FFLCH. 2002. SCHEPIS, Rosaly Marisa. Ciganos: os filhos Mágicos da Natureza. São Paulo (SP) Madras, 1997. TEIXEIRA, Rodrigo C. A questão cigana: uma introdução. Correrias de ciganos pelo território mineiro. Dissertação-Mestrado em História, Belo Horizonte, UFMG, 1998. Publicado originalmente em: Revista Trilhos – Revista da Faculdade do Sudeste Goiano. Pires do Rio. V-3, nº 3 (2005), p. 95-109.
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Algumas perguntas e respostas sobre a cultura cigana
Algumas perguntas e respostas sobre a cultura cigana
Respostas da escritora Cristina da Costa Pereira a perguntas feitas na IIIª Fiesta Gitana que não foram respondidas no dia 19 de outubro de 2014 por questão de tempo:
1) Por que os ciganos se casam entre eles?
Pelo fato de não terem um território delimitado como pátria só deles, o casamento entre ciganos é, além da língua cigana, o romani, um dos pontos altos da coesão da etnia. Mas é bom destacar que os calons sedentários casam-se preferencialmente entre eles, bem como também ocorre com os calons nômades. Quanto aos ciganos do grupo rom (e os vários subgrupos – kalderash, macwaia, xoraxané, lovara etc.) casam-se, cada qual, preferencialmente, dentro do mesmo subgrupo, pois o convívio do casal, para falar em termos práticos, fica mais facilitado.
“Além disso, há o dote e, com casamentos entre ciganos do mesmo grupo e subgrupo, estes se fortaleceriam. A estabilidade do casamento, então, poderia ser mais garantida, porque, em caso de desavença conjugal, só uma kumpania estaria envolvida. Como se vê, a ideia de perpetuar o clã está sempre presente entre os ciganos.” (PEREIRA, Cristina da Costa. Os ciganos ainda estão na estrada. Rio de Janeiro, Rocco, 2009).
Mas isto não é regra geral, pois no livro supracitado, o cigano kalderash Ivan Nicrites conta uma bela história de amor entre um rom kalderash seminômade e uma calin nômade, seus pais, e as dificuldades que isso acarretou por eles serem de grupos diferentes.
“Quanto à possibilidade de haver casamento entre um cigano e uma gadji, as coisas se complicam, pois a família do rapaz, que sempre dará preferência a casá-lo com uma prima, ou seja, uma cigana, poderá pressionar.” (op. cit.). A mulher cigana que deseja se casar com um não cigano encontrará ainda maior resistência em sua família, pois ela, depois de casada, deverá seguir com o marido e conviver com a família dele e, segundo pensam os ciganos, se afastará das tradições ciganas.
Quando indaguei aos ciganos sobre esta resistência que eles têm ao casamento entre ciganos e não ciganos, respondiam que: “o mundo do romá e o mundo dos gadjé são tão diferentes que há pouca chance de um casamento dar certo nessas circunstâncias (...). Os ciganos casando entre si facilitam a preservação de seus traços culturais na nova família que irá se formar.” (op. cit.)
Ao longo de meus trinta anos de pesquisa e convívio com esta etnia, conheci ciganos de vários subgrupos casados entre si. Além do mais, estamos no século 21 e muitas dessas normas e hábitos vêm se adequando à contemporaneidade.
2) É verdade que o índice de analfabetismo entre ciganos é muito grande?
Falarei somente em termos de Brasil. O índice de analfabetismo é maior entre os calons nômades, pela questão da mobilidade permanente e da discriminação, que os afastam e a seus filhos da escola.
Porém, no Brasil e no mundo, somente de 3 a 4% dos ciganos (dados fornecidos pela Unesco e pelas organizações ciganas internacionais) são nômades, hoje em dia. Quanto aos sedentários (do grupo calon e do grupo rom), conheci desde ciganos com doutorado e mestrado, a graduados, com ensino médio, fundamental ou, mais raramente, analfabetos. Eles exerciam as mais diversas profissões (músicos, dançarinos, médicos, assistentes sociais, promotores, advogados, cartomantes, circenses, professores, oficiais de justiça, delegados, taxistas) como qualquer não cigano. Quanto mais sedentários são, encontram mais condições de estudar.
3) O que a fez escrever sobre a cultura cigana?
Graduada em letras pela UFRJ e sendo professora de língua portuguesa e literatura, em 1984 veio-me a ideia de escrever sobre os “desconhecidos” ciganos do Brasil. Pensei, primeiramente, em escrever um conto mas, à medida que pesquisava sobre a referida etnia cigana, havendo, então, uma escassa bibliografia sobre o tema e tendo que recorrer à bibliografia estrangeira, resolvi que escrever uma ficção poderia alimentar ainda mais a fantasia e o desconhecimento sobre os ciganos. Achei, então, melhor optar pelo gênero de ensaio e, por meio de viagens a vários estados do Brasil e a alguns países do exterior, encontrando ciganos de subgrupos e condições diversos, recolhendo suas falas, ou seja, dando voz a eles, creio ter ajudado mais na compreensão de sua cultura. Somente alguns ensaios depois, escrevi em 1992 o livro Ainda é tempo de sonhos (Imago), para o público infantil, e em 2011 o livro Qualquer chão leva ao céu – a história do menino e do cigano (Escrita Fina Edições), para o público infantojuvenil, recriando ficcionalmente o universo cigano.
Quando, em 1986, publiquei meu primeiro livro, Povo cigano (edição da autora), obedeci a um desejo íntimo e, ao longo desses anos, em relação a tal tema, percebi que não é só importante dizer: “aqueles são os ciganos, assim são eles”, mas contextualizá-los dentro das complexas relações sociais de dominação (diáspora na Índia, Inquisição, escravidão na Romênia, degredo de Portugal/chegada ao Brasil, perseguição por diversos países europeus, nazismo, advento da União Europeia, sua condição atual no Leste Europeu, na Europa, enfim, todas as situações político-econômicas em que se encontram no século 21, nos mais diversões países, que os afetam).
Às vezes, no que concerne à etnia cigana, é mais fácil considerar o sobrenatural; tocar na realidade é o que dói.
Cristina da Costa Pereira, 23 de outubro de 2014.
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Quem são os ciganos?
Quem são os ciganos? EB
Dois são os nomes principais que designam essa estirpe:
a) ciganos, forma portuguesa do original “Atzigan” ou “Afsigan”, que na Turquia e na Grégia deu “Tshingian”; na Bulgária, e na Romênia, “Tsigan”; na Hungria, “Czigany”; na Alemanha, “Zigeuner”; na Itália “Zingari”; na Inglaterra, “Tinker” ou “Tinkler”.
O apelativo “cigano” parece derivar-se, em última análise, de “jigani”, denominação de uma tribo da Índia, pertencente à raça dravidiana, raça que resulta da fusão dos negritos (primitivos habitantes da península hindu) com os turanianos, povo de raça amarela, proveniente dosmontes Urais).
Os estudiosos modernos são levados a crer que os ciganos provém realmente dos jiganis da Índia, pois acentuada é a afinidade de traços raciais e de dialeto, vigente entre os dois povos.
b) egípcios, nome devido a uma crença divulgada pelos próprios ciganos quando entraram em cena na Europa medieval; segundo essa crença, os ciganos seria oriundos do Egito, ou melhor, de uma região chamada “Pequeno Egito” (= Palestina”. Tal nome tomou as formas “Gypsy” na Inglaterra “Gitano” (de Egiptiano) na Espanha ; “Gyphtos” no grego moderno. A mesma tese explica denominações similares dadas aos ciganos: “Pharaoh nepek” (povo de Faraó) na Hungria; “Faraon”, na Romênia.
Outros nomes atribuídos ao mesmo povo seriam : “boêmios” ou “Bohémiens”, na França; “Heydens” (= pagãos) na Alemanha. Os próprios ciganos sedesignavam durante algum tempo como “Romanos” a fim de se recomendar aos olhos dos demais povos.
Nas linhas que se seguem, examinaremos rapidamente quem são os ciganos (origem, história, gênero de vida, de trabalho…) e quais os seus aspectos religiosos mais característicos.
Origem e Esboço Histórico
Desde que os ciganos apareceram na Europa Ocidental, muitas hipóteses foram propostas para explicar a sua origem: seriam descendentes dos construtores das pirâmides, dos etíopes, dos persas, dos tártaros… Seriam uma das tribos perdidas de Israel, uma mescla de judeus e árabes, os últimos representantes dos metalurgos da idade do bronze, sobreviventes da Atlântida; seriam, talvez, a posteridade de Caim ou a de Cam, filho de Noé ou mesmo de Adão e de uma mulher anterior a Eva (o que justificaria a isenção da lei do trabalho em favor dos ciganos).
Postas de lado essas hipóteses fabulosas, no fim do século XVIII os estudiosos observaram grande semelhança entre a língua dos ciganos da Europa e o sânscrito e outras línguas vivas da Índia. Daí afirmarem a origem indiana dos ciganos, sentença esta que foi confirmada por ulteriores estudos de lingüistas, antropólogos e historiadores.
Na verdade, presume-se que sejam descendentes da tribo indiana dos jiganis. Apresentam estatura pequena e tez de pele que pode variar desde a coloração escura do cigano da Arábia até o matiz claro do habitante da Polônia. Em geral, têm um físico bem proporcionado e assaz ágil. São amigos de ornamentos vistosos e dos trajes de cores carregadas, de preferência vermelhos e verdes; as mulheres costumam usar lenços, colares e moedas de ouro em torno do pescoço, ficando-lhes os pés geralmente descalços.
Não se têm anteriormente ao início do séc. XIV vestígios seguros da estada dos ciganos na Europa. Parecem ter passado do Egito para as terras balcânicas, espalhando-se pela Hungria, a Boêmia e a Rússia. A sua entrada nos territórios da Europa Ocidental (Alemanha, França, Suíça, Itália) não se deve ter dado antes do princípio do séc. XV. Até hoje conservam os seus caracteres raciais e linguísticos bem definidos, pois só se casam entre si, sendo os matrimônios mistos ou exogâmicos considerados por eles como ilegítimos; em geral, tendem a se isolar dos demais povos – o que em parte se deve ao seu tipo de vida nômade. Falam a língua nomani ou nomanes, de fundo indiano, mesclada com locuções dos povos em meio dos quais habitam. Não têm tradição escrita ou literatura, mas o idioma é conservado muito vivo por ser secreto; está diversificado em dialetos.
Nenhuma nação conta os ciganos entre os seus concidadãos. É o que torna difícil avaliar o número de ciganos hoje existentes no mundo; calcula-se, porém, que atingem a cota de cinco a dez milhões. Não prestam serviço militar nem tratam de registrar os seus casamentos em cartório civil. Cada tribo ou bando nômade tem seu chefe e sua forma de governo autônomo. Dada a sua fama de gente fraudulenta e enganadora, os ciganos, do séc. XVI até o início do séc. XX, foram objeto da repressão de certos governos europeus, que lhes infligiram penas diversas: a escravidão na Romênia e na Hungria (séc. XVIII/XIX), o exílio e a própria condenação à morte.
Atividades dos Ciganos
Segundo geralmente se diz, os ciganos vivem da mendicância e do furto – o que não é correto. Existe, sem dúvida, a mendicância, direta ou dissimulada, praticada principalmente pelas mulheres e as crianças. Todavia os ciganos exercem também certo trabalho profissional e artesanal, variável de acordo com a região em que se encontram, e geralmente compatível com a vida nômade.
1) Adivinhar a sorte ou a quiromancia (interpretação das linhas da mão, também dita “leitura da buena dicha”) é ocupação das mulheres. Seguram a mão do cliente e a consideram, mas observam também o semblante do interlocutor. Praticam outrossim a adivinhação pelas cartas e pelo tarô, à semelhança dos não-ciganos. Vendem amuletos e bentinhos, recorrendo a ritos estranhos para atrair o favor ou a ira dos “espíritos superiores” – ritos chamados Xochano baro (a Grande Farsa).
Praticam igualmente o curandeirismo, utilizando o poder terapêutico de certas ervas. Esta arte os torna muito estimados nas rurais, onde os ciganos podem fazer as vezes de veterinários.
2) A música cigana também é muito apreciada desde o século X no Irã. Na Europa Ocidental e na Central, ela se impôs em festas aristocráticas como também nas dos camponeses. Serve-se da voz humana e de instrumentos; as letras lembram por vezes o hebraico, o árabe e o andaluso.
3) As dançarinas ciganas espanholas têm fama mundial. Na França apresentavam-se na corte de Henrique IV (1589-1610) como também nos castelos dos nobres. Os ciganos estão presentes nos teatros de marionetes, nos circos, e os homens nas touradas da Espanha. No México os ciganos têm seus cinemas ambulantes.
4) Na Europa Central, os ciganos se dedicam principalmente ao trato de cavalos; compram-nos, vendem-nos, trocam-nos e sabem cuidar deles. O mesmo se dá em relação a asnos e mulos.
5) Praticam a manufatura de metal e madeira: fabricam e consertam utensílios domésticos de cobre ou bronze (donde o nome de “caldeireiros” ou “chaudronniers”, que por vezes lhes é dado) ou de madeira (bancos, mesas).
6) Para vender seus produtos, os ciganos não montam lojas, mas vão ao encalço dos clientes de porta em porta. Compram e revendem diversos tipos de mercadoria. Este comércio ambulante é chamado chine. Também participam de feiras locais.
7) Na Espanha dos séculos XVIII e XIX os ciganos ofereciam hospedagem em albergues próprios. Podiam também embarcar em naves pesqueiras para praticar a pescaria, as mulheres se encarregavam de vender o peixe. Não são amigos da agricultura, pois esta obriga à vida sedentária, mas aceitam tarefas ocasionais de colheita.
8) Diz-se que o cigano tem o prazer de empunhar armas. Nas guerras dos séculos passados, como, por exemplo, na guerra dos Trinta Anos (1619-1648) havia batalhões inteiros de ciganos acompanhando as tropas regulares.
Costumes Ciganos
Os ciganos espalhados pelo mundo carecem de chefe comum. Certos grupos têm o seu Conselho de Anciãos e o tribunal dos Kris.
Os homens geralmente se vestem como os cidadãos da região em que vivem. As mulheres gostam de cores vivas, jóias, brincos e argolas, colares, e frequentemente saias longas.
Comem o que o respectivo país oferece. Muito estimam a carne, com exceção da de cavalo, que é proibida; preferem o porco e as aves.
Estão acostumados a morar em tendas, quando fazem uma pausa em suas andanças. Os que abraçam a vida sedentária, ornamentam seus abrigos como se fossem tendas.
O núcleo familiar é muito forte. O pai detém a autoridade. Prole numerosa é sinal de bênção divina. O casamento não costuma ser contraído nem na Igreja nem no cartório, mas é festejado com grandes solenidades de despesas. Também os funerais são solenes e dispendiosos, atraindo muitos parentes e amigos, que não raro vêm de longe. Os ritos tradicionais visam a apaziguar a alma do defunto e ajudá-lo em suas caminhadas no além-túmulo; os supostos fantasmas suscitam grande medo.
Ciganos e Religião em geral
Os ciganos não têm Religião própria, característica da raça, como a têm os judeus; mas adaptam-se às idéias religiosas do país em que se acham, fundindo-as com crenças supersticiosas comuns a muitos povos. Assim, na Turquia e na Arábia professam o islamismo; na Grécia e na Romênia, a “ortodoxia” cristã nacional; na Hungria, me Portugal e na Espanha, o catolicismo. Em verdade, porém, não cumprem muito exatamente os deveres religiosos do Cristianismo; principalmente no tocante à vida sexual, são indulgentes. Além disto, parecem inclinados a crer no fatalismo dos destinos humanos.
Vivendo no cenário cristão da Idade Média, compreende-se que os ciganos tenham estado envolvidos em mais de uma manifestação da fé cristã.
Os historiadores observam por exemplo, que não era raro passarem eles por peregrinos cristãos, gozando, a este título, dos favores e privilégios que os prelados e os príncipes concediam às caravanas de peregrinos; gozavam mesmo da tutela e dos benefícios que os Papas costumavam dispensar aos cristãos que demandavam os grandes santuários. Parece, porém, que os ciganos nem sempre se mantiveram à altura de tal benevolência, pois dela abusaram para cometer malefícios; assim, por exemplo, se exprime o cronista. Aventinus na primeira metade do séc. XVI: “A fraude e o roubo são proibidos aos outros povos…; estes, porém, (os ciganos) se atribuem a licença de os praticar”.
A má fama que, apesar do caráter de peregrinos cristãos, pesava sobre os ciganos, encontrou expressão em uma altercação graciosa, bem característica da mentalidade popular. Com efeito, dizia-se na Idade Média que os cravos com os quais foi crucificado o Senhor Jesus, haviam sido forjados por ciganos e que, em consequência, tal povo fora amaldiçoado. Diante desta falsa acusação os ciganos da
Alsácia e da Lituânia se defendiam inteligentemente…; chamavam a atenção para o costume introduzido no séc. XII/XIII na iconografia cristã, costume de representar o Senhor crucificado com três cravos e não, como na primitiva Igreja se representava, com quatro cravos… Aproveitando-se da estranheza que esse novo hábito provocava no povo cristão, os ciganos pretendiam justificá-lo contando que uma mulher cigana, desejosa de impedir a crueldade contra Jesus, tentara roubar os judeus os quatro cravos com os quais se dispunham a crucificá-Lo; tendo conseguido subtrair ao menos um cravo, os carrascos haviam sido obrigados a crucificar com três pregos em vez de quatro; um em cada mão, e um nos dois pés sobrepostos. Assim, segundo a intenção dos apologistas ciganos, a figura do Divino Crucificado, longe de constituir desdouro para a fama dos boêmios, deveria, antes, torná-los mais caros aos cristãos!… Esta altercação pode ser ilustrada pelo fato de que a primeira representação do Crucificado com três cravos data do séc. XII; está forjada em cobre e é de origem bizantina… Ora, se os ciganos bizantinos possuíam o monopólio da metalurgia nessa época, poder-se-ia supor que tal inovação na representação do crucifixo se deva aos ciganos, os quais destarte visavam afastar de si a calúnia de terem concorrido, pela sua indústria no séc. I, para atormentar o Senhor Jesus.
Alsácia e da Lituânia se defendiam inteligentemente…; chamavam a atenção para o costume introduzido no séc. XII/XIII na iconografia cristã, costume de representar o Senhor crucificado com três cravos e não, como na primitiva Igreja se representava, com quatro cravos… Aproveitando-se da estranheza que esse novo hábito provocava no povo cristão, os ciganos pretendiam justificá-lo contando que uma mulher cigana, desejosa de impedir a crueldade contra Jesus, tentara roubar os judeus os quatro cravos com os quais se dispunham a crucificá-Lo; tendo conseguido subtrair ao menos um cravo, os carrascos haviam sido obrigados a crucificar com três pregos em vez de quatro; um em cada mão, e um nos dois pés sobrepostos. Assim, segundo a intenção dos apologistas ciganos, a figura do Divino Crucificado, longe de constituir desdouro para a fama dos boêmios, deveria, antes, torná-los mais caros aos cristãos!… Esta altercação pode ser ilustrada pelo fato de que a primeira representação do Crucificado com três cravos data do séc. XII; está forjada em cobre e é de origem bizantina… Ora, se os ciganos bizantinos possuíam o monopólio da metalurgia nessa época, poder-se-ia supor que tal inovação na representação do crucifixo se deva aos ciganos, os quais destarte visavam afastar de si a calúnia de terem concorrido, pela sua indústria no séc. I, para atormentar o Senhor Jesus.
Outro encontro, digno de nota, dos ciganos com o Cristianismo é a peregrinação, que esse povo ainda em nossos dias costuma empreender ao santuário dito “das Três Marias” (Les Saintes Maries de la Mer) na ilha de Camargue perto de Marselha no mar Mediterrâneo. Conforme antiga narrativa, esse santuário assinala o lugar onde desembarcaram Maria, mãe de S. Tiago o Menor, Maria de Salomé, mãe de S. João Evangelista e s. Tiago o Maior, e Maria Madalena, acompanhadas de José de Arimatéia, de Lázaro e de Sara, companheira egípcia das três Marias: teriam sido expulsos da Palestina pelos perseguidores da fé; embarcando então numa navezinha destituída dos devidos recursos, a pequena caravana, por evidente tutela da Providência Divina, teria chegado incólume a Camargue, e daí haveria iniciação a evangelização da Gália. Em comemoração do episódio (cuja autenticidade não interessa discutir aqui), os cristãos ergueram na mencionada ilha uma grandiosa igreja, onde estão guardadas as relíquias de Santa Sara, que os ciganos cristãos veneram como sua padroeira. Ora, sendo a festa das “Três Marias” celebrada anualmente a 25 de maio, os ciganos de várias partes do mundo (França, Alemanha, Áustria, Itália, Espanha e até do Marrocos) costumam afluir ao santuário, podendo o número de peregrinos chegar a um total de 5.000; os mais antigos vestígios (ofertas votivas) desse piedoso costume chegam a ser anteriores ao ano de 1450! A Igreja do santuário fica, por ocasião de tais peregrinações, inteiramente ocupada pelos ciganos, os quais dão à localidade toda um aspecto festivo, meio-religioso, meio-profano; suas manifestações de piedade nem sempre condizem com a genuína mentalidade católica.
Ainda no tocante às relações dos ciganos com o Cristianismo, pode-se notar o seguinte: na França em 1961 havia cerca de vinte sacerdotes (capelães) consagrados à cura pastoral entre os boêmios, sob a direção geral do padre Feluny, capelão-mor (outros capelães existiam na Alemanha, na Espanha, no Marrocos). Justamente durante os festejos de 1961 em Camargue um desses sacerdotes franceses declarou à imprensa :
“As mulheres ciganas (…), não são moralmente transviadas. Inegavelmente, os ciganos praticam uniões de amor livre; muitos desses casos, porém, se devem simplesmente ao fato de que não conseguem obter os documentos que o governo requer para o matrimônio civil. Tais circunstâncias, porém, não impedem que os ciganos estejam bem convictos das obrigações decorrentes do matrimônio. Entre eles o varão que tenha escolhido uma mulher, sabe permanecer-lhe fiel, sendo o adultério passível de penas severíssimas… Nos últimos tempos, tendo-se a Igreja mais ainda aproximado deles, designando capelães para lhes assistir, muitas situações de famílias irregulares foram legalizadas; numerosos batizados têm sido efetuados; eu mesmo já tive a ocasião de assistir à primeira Comunhão de seis ciganazinhas”.
O repórter Emílio Marini, que transmite a declaração acima, acrescenta quase à guisa de comentário:
“Não há dúvida, quem se aproxima daqueles carros (dos ciganos) e conversa com os respectivos moradores, toma consciência de que o juízo muito freqüentemente proferido sobre eles é de todo injusto; trata-se, na verdade, de gente honesta, trabalhadora, de gente que fica à margem da sociedade, principalmente porque a sociedade não a sabe acolher com a devida estima. Trata-se de gente que está apegada ao seu carro como o camponês está apegado a sua terra, e que, embora pareça não Ter pátria, é enormemente afeiçoada à família, à sua tribo, ao seu carro, à sua a liberdade” (extraído da revista Orizzonti nº 28, de 9 de julho de 1961).
Este modo de ver, compreensivo e benévolo, parece assaz oportuno na hora presente para acautelar contra generalizações pouco eqüitativas.
Aliás, os ciganos, muito atacados, sempre tiveram seus defensores, principalmente por causa do seu talento musical e artístico. No século XX foram formadas sociedades destinadas a torná-los mais conhecidos e pôr em evidência o que eles têm de positivo; assim na Inglaterra a Gypsy Love Society e na França Erudes Tsiganes. Os preconceitos tendem a se dissipar, uma certa assistência vem sendo dada aos ciganos, para que, como minoria, se possam adaptar à grande sociedade, merecendo o respeito desta e prestando sua colaboração à mesma.
Revista : “PERGUNTE E RESPONDEREMOS”
D. Estevão Bettencourt, osb
Nº 423 – Ano: 1997 – pág. 366
D. Estevão Bettencourt, osb
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terça-feira, 6 de setembro de 2016
O Cigano Kalon Andaluz " Joaquim Cortés, O Maior Bailarino de Flamenco do Mundo, na Atualidade "
O Cigano Kalon Andaluz " Joaquim Cortés, O Maior Bailarino de Flamenco do Mundo, na Atualidade " ..
Comunidade Rroma do Brazil -original opre roma
O Cigano Kalon Andaluz " Joaquim Cortés, O Maior Bailarino de Flamenco do Mundo, na Atualidade " ..
..
nascido Joaquín Pedraja Reyes em 22 de fevereiro,1969,Córdova, Andaluzia, na Espanha, desde criança demonstrou a mística
cigana pelo flamenco , criação gitana Kalon andaluz !!! ,
em 1981 sua família Reyes ,tradicional família cigana Kalon andaluz
do flamenco muda se pra Madri , onde o menino leva a sério o
estudo do Flamenco ,
no anos de 1984 é aceito como membro da prestigiada cia de
Ballet Nacional de Espanha , onde dançou importantes shows
como no Metropolitan Opera House (Lincoln Center) de Nova Iorque,Palace Kremlin em Moscou, se tornando no principal ..
bailarino solo dessa companhia ,
e para poder ter liberdade de criação, ele formou a sua própria
cia de ballet , afastando se do ballet purista e criar a sua fusão
pessoal de flamenco , e assim em 1992 lança sua primeira ..
turnê " Internacional " Cibayí " ,
seu maior empreendimento de " Maior Sucesso , " Pasión ..
Gitana ( Paixão Cigana ) é a marca divisória de seu talento ,
e o reconhecimento " Internacional Como Maior Bailarino de
Flamenco , , Grande Coreógrafo , e Diretor Artístico , antes
disso somente ,
o Ciganos espanhol, e Também Maior Bailarino de Flamenco
e Danças Clássicas do Mundo em sua época, o Cigano ..
Antonio Cansino( avô de Margarita Carmen Cansino a Rita Hayworth) e chefe de poderosa família cigana de artistas e ..
dançarinos de Flamenco que chegou a Hollywood -EUA) ,e ..
agora :
foi a vez de Cortés, que na década de 1990 se tornou notoriedade ,
e tendo relações pessoais, e estreitas com celebridades de ..
alto nível tipo :Naomi Campbell , Giorgio Armani e Mira Sorvino ,
desde a sua criação pelos ciganos andaluzes,a sua arte e seus
" Grandes bailarinos foram ciganos ", teve destaques !!! grandes bailarinos payos !!! , o flamenco nasceu entre os ..
" Ciganos Andaluzes " Espanhol " , com influências árabes , judaicas ,etc
trazidas pelos ciganos !!! - " Flamenco é Criação de Ciganos Espanhóis " que foi transmitida aos " Não Ciganos Espanhóis "
..
arnaldo reisdec
..
nascido Joaquín Pedraja Reyes em 22 de fevereiro,1969,Córdova, Andaluzia, na Espanha, desde criança demonstrou a mística
cigana pelo flamenco , criação gitana Kalon andaluz !!! ,
em 1981 sua família Reyes ,tradicional família cigana Kalon andaluz
do flamenco muda se pra Madri , onde o menino leva a sério o
estudo do Flamenco ,
no anos de 1984 é aceito como membro da prestigiada cia de
Ballet Nacional de Espanha , onde dançou importantes shows
como no Metropolitan Opera House (Lincoln Center) de Nova Iorque,Palace Kremlin em Moscou, se tornando no principal ..
bailarino solo dessa companhia ,
e para poder ter liberdade de criação, ele formou a sua própria
cia de ballet , afastando se do ballet purista e criar a sua fusão
pessoal de flamenco , e assim em 1992 lança sua primeira ..
turnê " Internacional " Cibayí " ,
seu maior empreendimento de " Maior Sucesso , " Pasión ..
Gitana ( Paixão Cigana ) é a marca divisória de seu talento ,
e o reconhecimento " Internacional Como Maior Bailarino de
Flamenco , , Grande Coreógrafo , e Diretor Artístico , antes
disso somente ,
o Ciganos espanhol, e Também Maior Bailarino de Flamenco
e Danças Clássicas do Mundo em sua época, o Cigano ..
Antonio Cansino( avô de Margarita Carmen Cansino a Rita Hayworth) e chefe de poderosa família cigana de artistas e ..
dançarinos de Flamenco que chegou a Hollywood -EUA) ,e ..
agora :
foi a vez de Cortés, que na década de 1990 se tornou notoriedade ,
e tendo relações pessoais, e estreitas com celebridades de ..
alto nível tipo :Naomi Campbell , Giorgio Armani e Mira Sorvino ,
desde a sua criação pelos ciganos andaluzes,a sua arte e seus
" Grandes bailarinos foram ciganos ", teve destaques !!! grandes bailarinos payos !!! , o flamenco nasceu entre os ..
" Ciganos Andaluzes " Espanhol " , com influências árabes , judaicas ,etc
trazidas pelos ciganos !!! - " Flamenco é Criação de Ciganos Espanhóis " que foi transmitida aos " Não Ciganos Espanhóis "
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arnaldo reisdec
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quinta-feira, 1 de setembro de 2016
Carmen Amaya - em 19 de novembro de 2016 completara 53 anos do falecimento da deusa gitana do flamenco .
Carmen Amaya
..
em 19 de novembro de 2016 completara 53 anos do
falecimento da deusa gitana do flamenco .
..
em 19 de novembro de 2016 completara 53 anos do
falecimento da deusa gitana do flamenco .
Carmen Amaya
..
em 19 de novembro de 2016 completara 53 anos do
falecimento da deusa gitana do flamenco .
..
nasceu em Bajari em 1913 e faleceu em 19 de ..
novembro de 1963 .
a maior bailarina de flamenco do seculo XX , uma
cigana que criou seu estilo ,estilo feroz ,agressivo ,
seu traço marcante era o chocalho no pé ,rápido ,
era seu traço marcante , ela sera lembrada sempre
como a dançarina que usava o traje corto, estilo ..
usado apenas por homem , colocando seu jeito ..
de mulher cigana num estilo masculino de dançar
o flamenco , criando um estilo profundamente seu ,
uma imagem forte e viril , foi chamada de pernas de
aço , sua marca registrada , ela revolucionou a ..
forma feminina de se dançar o flamenco , quebrou
todas as regras e tradições do velho estilo andaluz
de dança
..
arnaldo reisdec -
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OS CIGANOS NO BRASIL:: Do século 17 até os dias de hoje, suas crenças, suas histórias
Não se tem muitos documentos a respeito da história dos ciganos porque como sua língua é ágrafa, sem grafia, não existem registros escritos. A informação nos é chegada através de afirmações orais nem sempre comprovada.
Somente no final do século XVII é que podemos ver generalizado o degredo de ciganos para o Brasil. Bandos deles, provenientes de Castela, entravam em Portugal. Sua Majestade D. Pedro, rei de Portugal e Algarves, preocupadíssimo com a "inundação de gente tão ociosa e prejudicial por sua vida e costumes, andando armados para melhor cometerem seus assaltos", decidiu determinar, por decreto, que, além do degredo para a África, eles seriam também banidos para o Brasil: "Tendo resoluto que os ciganos e ciganas se pratique a lei, assim nesta corte, como nas mais terras do Reino; com declaração que os anos que a mesma lei lhes impõe para África, sejam para o Maranhão, e que os Ministros que assim o não executarem, lhes seja dado em culpa para serem castigados, conforme o dolo e omissão que sobre este particular tiverem." - Decreto em que se mandou substituir o exílio da África para o Maranhão, in F.A. Coelho, Os Ciganos de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892.
Esta resolução real foi estabelecida em 1686, mas a história dos ciganos no Brasil teve início realmente quando, em 1574, durante o reinado de D. Sebastião, o cigano João Torres veio degredado para o Brasil com sua mulher e filhos por cinco anos.
A Metrópole despejou seus "criminosos" nas terras coloniais ultramarinas, particularmente no Brasil e África. A colônia, por sua vez, mandou seus elementos indesejáveis e "gentes inúteis" para outras capitanias e continentes.
Em Minas Gerais, a presença cigana é sentida a partir de 1718, quando chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido deportados de Portugal. Na época em que começaram a chegar a Minas Gerais havia neste estado um movimento muito importante com objetivos de progresso e ideais de independência. Como essas idéias não estavam consoantes com os ciganos, eles não eram bem vistos, sendo considerados inúteis à sociedade, vândalos, corruptores de costumes. Só começaram a ser vistos de outra forma quando passaram a comerciar escravos pelo interior do país. Esta atividade proporcionou uma maior aceitação e mesmo valorização social dos ciganos, já que passaram a exercer um trabalho reconhecido como útil por grande parte da população. Alguns ciganos tornaram-se ilustres, patrocinando até festividades na Corte.
No Rio de Janeiro, nos anos de 1700, os ciganos se estabeleciam nas cercanias do Campo de Santana. Suas pequenas casas, guarnecidas de esteiras ou rótulas de taquara, cercam o campo, dando origem à chamada Rua dos Ciganos (da Constituição). Os ciganos festejavam Santana, a quem chamavam de Cigana Velha.
Nas últimas décadas, pesquisadores concluíram que os ciganos no Brasil estão divididos em dois grandes grupos: Rom e Calon.
O grupo Rom é dividido em vários subgrupos como os Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara.
Do grupo Calon, cuja língua é o caló, fazem parte os ciganos que vieram de Portugal e Espanha para o Brasil. São encontrados em maior número no nordeste, Minas e parte de São Paulo.
A Constituição de 1988 quase teve um artigo específico para os ciganos estabelecendo o respeito à minoria cigana. O então deputado Antonio Mariz propôs emenda proibindo discriminação étnica ou racial.
Mesmo assim, os ciganos estão abrangidos pela grande proteção dada pelos artigos 215 e 216 da Constituição, que manda preservar, proteger e respeitar o patrimônio cultural brasileiro, o qual é constituído pelos modos de ser, viver, se expressar, e produzir de todos
os segmentos étnicos que formam o processo civilizatório nacional.
Como toda minoria étnica (religiosa ou lingüística), os ciganos têm direitos importantes. O primeiro deles é o direito de não ser objeto de discriminação.
Afinal, um povo fascinante, amante da natureza, que sabe respeitar suas crianças e seus anciãos, que conserva suas origens e tradições apesar de toda perseguição e barbaridades sofridas, merece ser respeitado.
Não adianta amarmos nossas entidades ciganas, promovermos festas em sua homenagem, se não tivermos um mínimo de respeito e consideração por sua raça.
Norma Estrella
(21) 9776-7377 / (22) 2655-3963
normaestrella7@gmail.com
Somente no final do século XVII é que podemos ver generalizado o degredo de ciganos para o Brasil. Bandos deles, provenientes de Castela, entravam em Portugal. Sua Majestade D. Pedro, rei de Portugal e Algarves, preocupadíssimo com a "inundação de gente tão ociosa e prejudicial por sua vida e costumes, andando armados para melhor cometerem seus assaltos", decidiu determinar, por decreto, que, além do degredo para a África, eles seriam também banidos para o Brasil: "Tendo resoluto que os ciganos e ciganas se pratique a lei, assim nesta corte, como nas mais terras do Reino; com declaração que os anos que a mesma lei lhes impõe para África, sejam para o Maranhão, e que os Ministros que assim o não executarem, lhes seja dado em culpa para serem castigados, conforme o dolo e omissão que sobre este particular tiverem." - Decreto em que se mandou substituir o exílio da África para o Maranhão, in F.A. Coelho, Os Ciganos de Portugal, Lisboa, Imprensa Nacional, 1892.
Esta resolução real foi estabelecida em 1686, mas a história dos ciganos no Brasil teve início realmente quando, em 1574, durante o reinado de D. Sebastião, o cigano João Torres veio degredado para o Brasil com sua mulher e filhos por cinco anos.
A Metrópole despejou seus "criminosos" nas terras coloniais ultramarinas, particularmente no Brasil e África. A colônia, por sua vez, mandou seus elementos indesejáveis e "gentes inúteis" para outras capitanias e continentes.
Em Minas Gerais, a presença cigana é sentida a partir de 1718, quando chegam ciganos vindos da Bahia, para onde haviam sido deportados de Portugal. Na época em que começaram a chegar a Minas Gerais havia neste estado um movimento muito importante com objetivos de progresso e ideais de independência. Como essas idéias não estavam consoantes com os ciganos, eles não eram bem vistos, sendo considerados inúteis à sociedade, vândalos, corruptores de costumes. Só começaram a ser vistos de outra forma quando passaram a comerciar escravos pelo interior do país. Esta atividade proporcionou uma maior aceitação e mesmo valorização social dos ciganos, já que passaram a exercer um trabalho reconhecido como útil por grande parte da população. Alguns ciganos tornaram-se ilustres, patrocinando até festividades na Corte.
No Rio de Janeiro, nos anos de 1700, os ciganos se estabeleciam nas cercanias do Campo de Santana. Suas pequenas casas, guarnecidas de esteiras ou rótulas de taquara, cercam o campo, dando origem à chamada Rua dos Ciganos (da Constituição). Os ciganos festejavam Santana, a quem chamavam de Cigana Velha.
Nas últimas décadas, pesquisadores concluíram que os ciganos no Brasil estão divididos em dois grandes grupos: Rom e Calon.
O grupo Rom é dividido em vários subgrupos como os Kalderash, Matchuara, Lovara e Tchurara.
Do grupo Calon, cuja língua é o caló, fazem parte os ciganos que vieram de Portugal e Espanha para o Brasil. São encontrados em maior número no nordeste, Minas e parte de São Paulo.
A Constituição de 1988 quase teve um artigo específico para os ciganos estabelecendo o respeito à minoria cigana. O então deputado Antonio Mariz propôs emenda proibindo discriminação étnica ou racial.
Mesmo assim, os ciganos estão abrangidos pela grande proteção dada pelos artigos 215 e 216 da Constituição, que manda preservar, proteger e respeitar o patrimônio cultural brasileiro, o qual é constituído pelos modos de ser, viver, se expressar, e produzir de todos
os segmentos étnicos que formam o processo civilizatório nacional.
Como toda minoria étnica (religiosa ou lingüística), os ciganos têm direitos importantes. O primeiro deles é o direito de não ser objeto de discriminação.
Afinal, um povo fascinante, amante da natureza, que sabe respeitar suas crianças e seus anciãos, que conserva suas origens e tradições apesar de toda perseguição e barbaridades sofridas, merece ser respeitado.
Não adianta amarmos nossas entidades ciganas, promovermos festas em sua homenagem, se não tivermos um mínimo de respeito e consideração por sua raça.
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